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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Tribalivre

"Um dia, minha mãe me disse, você já é grande, tem que trabalhar! Naquele instante aproveitei a chance, vi que eu era livre para me virar!"

"O tempo passou depressa, e eu aqui cheguei, passei por tudo que é dificuldade, me perdi pela cidade, mas já me encontrei!"

Uma série de motivos fizeram eu consolidar minha vida na cidade de São Paulo. Um fato interessante é notar o número de famílias são originalmente de outras cidades, estados e países. Dito de outro forma, no meu convívio, é difícil encontrar uma família paulistana "raiz", na qual os avós e bisavós nasceram aqui na capital.

Minha ascendência é uma grande mistura entre a cultura baiana, árabe e espanhola, personagens de povos que por diferentes razões escolheram a cidade de São Paulo para residir, estudar, trabalhar e constituir família.

Houve um tempo em que tive pouco apreço por esta cidade, o trânsito caótico e o grande número de moradores de rua eram dois fatores que me causavam tristeza e me impediam de valorizar as oportunidades que São Paulo oferece.

A maior delas sem dúvida está ligada ao retorno e impacto da educação na vida das pessoas. No meu caso, hoje é muito fácil ver que o padrão de vida que desfruto é uma consequência direta das oportunidades profissionais que surgiram pelo acesso que tive à um ensino de qualidade, em especial uma graduação 100% gratuita custeada pelo Estado de São Paulo.

História semelhante ocorreu com diversos amigos de faculdade, os quais ascenderam à posições profissionais de destaque e hoje estão muito bem. Apesar de vários cases de sucesso, ainda hoje vivemos numa sociedade extremamente desigual, na qual a renda é extremamente concentrada.

O estudo Mapa da Desigualdade publicado pela Nossa São Paulo revela alguns indicadores alarmantes em diversas áreas como saúde, educação, criminalidade e renda na cidade de São Paulo. 

Um dado que me chamou bastante atenção é sobre a concentração imobiliária, 22.400 pessoas (1% do total de proprietários de imóveis) detém 25% dos imóveis registrados na cidade os quais somam R$ 749 bilhões. Isso equivale dizer que na média cada membro deste pequeno grupo possui um total de imóveis avaliados em cerca de R$ 34 milhões.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

O Discurso

Foi uma eleição cheia de polêmicas, quebra de paradigmas, memes e brigas de família, mas enfim acabou!

Após a divulgação do resultado das urnas me chamou a atenção o tom dos discursos proferidos pelo candidato eleito e por seu oponente no 2o turno da eleição presidencial .

A eleição foi uma barbárie, não houve um debate sério de ideias e o que se viu foi uma grande troca de farpas numa disputa polarizada guiada pelo tal do voto útil, que grosso modo é escolher não com base em suas convicções e alinhamento com um plano de governo mas sim com a intenção de afastar um mal maior, seja ele o conservadorismo liberal de direita ou a perpetuação de uma esquerda que partiria para o 5o mandato presidencial consecutivo.

Nesse sentido, até entendo o fato de Fernando Haddad não citar Jair Messias Bolsonaro no seu discurso ou sequer ligar para o presidente eleito para lhe dar os parabéns. Antes que algum Bolsomion me chame de petista ou comunista, basta imaginar o oposto, será que Bolsonaro iria ligar para Haddad e citá-lo no seu discurso de vitória? Ao meu ver seria impossível, porém respeito quem acredita num suposto caráter superior do futuro presidente.

É muito fácil exigir do derrotado um discurso propositivo, que una o país e que tente diminuir tensões sociais quando você não é o derrotado. 

Casos raros na nossa história mostram homens e mulheres que, mais do que se colocarem como representantes de uma determinada ideologia, mostraram a capacidade de enxergar seu papel de influência numa democracia.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Palavras ao Vento

Uma expressão popular diz que "há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida".

Aqui no Brasil os políticos desafiam parte desta expressão quando, não raramente, falam ou escrevem algo e logo depois voltam atrás, pedindo que os estimados eleitores desconsiderem aquilo que foi dito ou escrito em uma ou várias oportunidades.

Este é o caso do candidato Fernando Haddad e do Partido dos Trabalhadores que na página 17 do seu Plano de Governo defendeu a ideia de uma nova Constituição conforme transcrito abaixo:

"Para tanto, construiremos as condições de sustentação social para a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, livre, democrática, soberana e unicameral, eleita para este fim nos moldes da reforma política que preconizamos."

Mas fiquem tranquilos eleitores, ontem em entrevista ao Jornal Nacional, Haddad já voltou atrás e disse que o Partido reviu sua posição, desistindo dos planos de uma nova Constituição.

Situação idêntica ocorreu com a candidatura de Jair Bolsonaro, a qual teve que justificar a ideia levantada pelo candidato à vice-presidente General Mourão:

"Uma Constituição não precisa ser feita por eleitos pelo povo."

De forma análoga à Haddad, Bolsonaro também se apressou em dizer que tratou-se duma "canelada" do General Mourão, e que em seu governo haverá total respeito à Constituição. Segundo o candidato, Mourão aprenderá rápido as regras da política e não falará mais coisas deste tipo.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Eleições e o Concurso de Beleza de Keynes

Inveja é um sentimento ruim, um dos famigerados sete pecados capitais. Se fosse possível nutrir alguma espécie de "inveja boa" por alguma pessoa, eu teria esse sentimento por John Maynard Keynes.

Seu livro "A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda" é o livro de maior impacto que já tive o prazer de ler, principalmente quando se coloca o contexto histórico em que foi lançado, pós crise de 1929.

No capítulo XII, Keynes sugere que as decisões dos indivíduos não são tomadas por suas convicções mas sim pelo que eles imaginam ser a opinião das outras pessoas.

O economista descreve um concurso de beleza em que os candidatos deveriam escolher 6 rostos dentre milhares de opções. O vencedor seria aquele que as escolhas estivessem mais próximas da média das opiniões. Não se trata portanto apenas de escolher os rostos mais bonitos, mas de escolher aqueles que mais se aproximam da opinião dos demais.

Contextualizando, imagine que você tem uma forte preferência por pessoas loiras de olhos claros, porém, acredita que na média as pessoas preferem em geral morenas de cabelo escuro, a estratégia para vencer este concurso seria abandonar sua convicção/preferência pessoal e selecionar rostos de acordo com a probabilidade de agradar o maior número de pessoas.

O leitor com certeza conhece alguém que provavelmente não leu Keynes mas justifica sua intenção de voto nesta eleição com base no chamado "voto útil", ou seja, não estou votando no melhor programa de governo ou no candidato com melhor histórico mas sim naquele candidato que tem maior probabilidade de vitória.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Conversa de Araque

Talvez não seja uma expressão tão ouvida nos últimos tempos, mas quando pegamos alguém falando alguma mentira ou estória exagerada, podemos falar que esta é uma conversa de araque.

A palavra araque deriva da bebida alcoólica arábe "arak", um destilado feito com seiva de palmeira ou do arroz. Assim, a expressão foi criada para tratar de uma conversa entre pessoas geralmente embriagadas, dotadas de pouco discernimento após tomarem algumas doses de "arak".

Nesta eleição alguns economistas (se é que podemos chamá-los assim), na função de assessores dos candidatos à presidência, apresentaram ideias no mínimo esdrúxulas. Mesmo sem aparentemente terem tomado "arak" ou qualquer outra bebida alcoólica, algumas das medidas propostas parecem mais devaneios do que uma medida econômica.

Este é o caso por exemplo de Paulo Guedes, o economista por trás do candidato Bolsonaro, o qual atestou ser possível levantar R$ 1.0 trilhão em privatizações. Ora, o governo possui de fato este montante aproximado em ativos porém as participações em estatais (incluindo Petrobrás) somam cerca de R$ 250 bilhões, o restante são estradas, escolas e parques os quais Paulo Guedes não deixa muito claro como seriam privatizados.

Outra medida folclórica é o Programa Nome Limpo de Mauro Benevides e Ciro Gomes, isso mesmo Pai Ciro irá limpar seu nome do SPC! E como funcionaria na prática? Ciro iria negociar juros e multas e brigaria por um desconto de 70% referente aos juros abusivos da sua dívida. O saldo devedor seria financiado num esquema de aval solidário no qual, quando um devedor der calote, outros quatro seriam responsáveis pela dívida. Lindo não? Mas atenção, caso Ciro seja eleito, esta barganha só será válida para quem estava com o nome no SPC até 20 de julho de 2018.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Quinze Minutos de Fama

Começou o horário político! Talvez seja sintoma da idade porém confesso que estava ansioso para este momento, principalmente pela oportunidade de analisar a estratégia de cada candidato, com a ressalva dos diferentes tempos de TV, que variam entre 5 segundos a 5 minutos e meio.

Imitando o jogo de ligar os pontos, listei abaixo numa coluna os bordões apresentados no horário eleitoral de primeiro de setembro e na outra coluna os respectivos candidatos, a maioria é bem fácil de adivinhar mas não deixa de ser um exercício interessante:


Além dos candidatos folclóricos e (algumas) propostas estapafúrdias, estas eleições trouxeram uma novidade em comparação à outros que participei, nunca antes na história deste país houve um consenso quase unânime entre os candidatos de que Reformas Econômicas são essenciais para garantir a estabilidade do país.

Não à toa, além de debates e rodas vivas com os próprios candidatos, neste ano já foram realizados um número significativo de debates na mídia com os Economistas por trás destes 12 presidenciáveis. Há discordância no formato das Reformas que devem ser implementadas, porém três tópicos aparecem no discurso de quase todas as equipes: Previdência, Reforma Tributária e o fim de Privilégios para determinadas classes.

Este ímpeto reformista nem de longe é motivado por um planejamento de longo prazo visando o desenvolvimento do país, como quase tudo o que ocorre na política tupiniquim, medidas desta magnitude só são implementadas quando a água bate no pescoço, uma parábola que na atual conjuntura seria melhor traduzida como a água bate no teto (de gastos).

Apesar do aparente clima de tranquilidade que paira no ar (com exceção da escalada da cotação do dólar nas últimas semanas) estamos diante de uma bomba relógio alimentado pelo crescimento dos gastos públicos. 

A aprovação da PEC do Teto de Gastos em 2016 nos colocou numa situação limite em que medidas duras deverão ser tomadas para garantir a viabilidade do orçamento do Estado brasileiro nos próximos anos.

Nesse sentido as últimas notícias anunciadas de aumento de salários do judiciário e dos servidores públicos são preocupantes. De forma resumida, tudo mais constante, isso implicará num aumento de gastos do Governo, o que aumenta o risco de descumprimento do Teto de Gastos.

E o que acontece se rompermos o teto? As principais sanções seriam (i) proibição de elevar despesas como salários de servidores, (ii) proibição de aumento superior à inflação para o salário mínimo, (iii) proibição de abertura de concursos públicos e (iv) proibição de criação e expansão de programas e concessão de incentivos fiscais.

Estas consequências são o maior temor de qualquer candidato que se preze e não por outro motivo se discutem formas de diminuir o gasto público com salários e aposentadorias, cortar privilégios de funcionários públicos e, mesmo se isso for insuficiente, elevar ou criar algum imposto como as propostas de taxação de dividendos e maior tributação de heranças.

O reconhecimento e discussão de um problema é o primeiro passo para resolvê-lo. Resta esperar que aqueles quer forem eleitos neste ano mantenham esta discussão viva quando assumirem o poder. Afinal seria extremamente desapontador vivenciar novos episódios de estelionato eleitoral na política brasileira.










quarta-feira, 29 de agosto de 2018

O que aprendi no Quênia

Acabo de retornar de um período de trabalho de 15 dias no Quênia. O foco neste período não foi acadêmico porém é difícil ficar um tempo razoável fora do Brasil sem examinar alguns aspectos da economia deste país que me hospedou neste tempo.

Pouco antes da viagem, um colega de trabalho recomendou o paper Mobile Money, The Ecomics of M-PESA, de autoria de William Jack e Tavneet Suri do MIT. A palavra PESA significa dinheiro na linguagem swahili, falada no Quênia e em diversos outros países do continente africano. O M-PESA é o principal (mas não o único) sistema de pagamentos via telefone celular do país.

Lançado em 2007 no Quênia pela empresa de telefonia Safaricom (integrante do Grupo Vodafone), cresceu rapidamente e hoje é utilizada por mais de 70% da população. O sistema funciona de forma bastante simples, basta ter um chip da operadora telefônica e realizar a compra de créditos numa loja ou pela internet. Os pagamentos são processados via SMS e pode ser utilizado tanto para compra de bens e serviços como para transferência de recursos entre os cidadãos quenianos.

Um dos motivos do rápido crescimento é tecnológico, seja pela expansão do uso do telefone celular como pela escassez de caixas eletrônicos em regiões pouco desenvolvidas, o que dificulta o acesso a papel moeda. A utilização de máquinas de cartão de débito e crédito também é pequena uma vez que muitos destes aparelhos demandam acesso à internet.

Outro fator importante num país subdesenvolvido é a segurança, uma vez que manter papel moeda seja na sua carteira ou num cofrinho na sua casa não é algo tão trivial quando grande parte das pessoas sobrevive com um salário mensal de USD 70 e dada a situação de extrema pobreza há mesmo entre os cidadãos locais alguma sensação de insegurança.

Por fim, há também um efeito de redistribuição de renda que estimulou a utilização do Mobile Money, como o acesso à crédito é ainda muito limitado no Quênia, o paper do MIT indica que muitas transações do M-PESA ocorrem entre pessoas com algum laço familiar ou em reciprocidade, o que indica a existência de pequenos empréstimos efetivados por meio da moeda virtual.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

O Valor de Nada

Há certo tempo li o livro The Value of Nothing do economista e escritor Raj Patel. O autor basicamente fala que hoje nós sabemos o preço de quase tudo mas o valor de quase nada.

Pode soar estranho, porém os conceitos tem uma diferença significativa, há coisas que possuem valor mas não tem preço, como por exemplo, o abraço da sua avó ou o beijo da sua namorada. Assim o valor de algo é a tradução da importância daquele item para você, seja em termos de afeto, utilidade ou mesmo monetários.

Um estudo inédito do IPEA, o qual será publicado em agosto deste ano, revelou que R$ 173 bilhões oferecidos em subsídios desde 2002 não atingiram os objetivos alcançados. 

A primeira coisa que me chama a atenção é que nunca antes na história desse país havíamos conferido a efetividade dos subsídios oferecidos pelo governo, ou seja, concedemos um bolsa-empresário aqui e ali, pregando que o incentivo iria gerar emprego e estimular a economia do país, porém, após ter gasto o dinheiro, ninguém ia lá verificar o desempenho das empresas beneficiadas.

Dificilmente o estimado leitor faria algo parecido, é como contratar um diarista, pagar adiantado pelo serviço e não checar se ele/ela foi de fato na sua casa e realizou a limpeza ou demais serviços domésticos contratados, e o mais grave, fazer isto por mais de 10 anos.

terça-feira, 17 de julho de 2018

A Revolta da Vacina

Esse com certeza não é meu principal tema de debate porém é sem sombra de dúvida um dos que me deixa mais confuso e incrédulo. 

Uma notícia publicada ontem na  mídia me chamou a atenção, o Ministério Público do RS lançou uma campanha para alertar os pais sobre a vacinação dos filhos. Não obstante, o MP ressaltou que esta é uma obrigação legal e que estava preocupado com o grande número de pessoas que, seguindo notícias da gloriosa internet, deixaram de levar seus filhos para vacinação nos postos de saúde.

Ora, com certeza os estimados leitores conhecem alguém que ouviu algo no Facebook e passou a informação adiante como uma verdade absoluta, sem ao menos criticar a fonte. Isso é muito comum com relação à factoides políticos como por exemplo "o Político X é um ladrão", "o Governo Y só rouba" e outras coisas do tipo.

Porém, será que a sociedade está com valores tão deturpados que as pessoas conseguem se convencer facilmente de que vacinar seu filho é algo ruim?

Por mais curioso que pareça já houve no ano de 1904 uma grande Revolta Popular contra a vacinação no Rio de Janeiro. Na época, a cidade era  foco de inúmeras doenças, em especial a varíola. Nesse cenário o médico Oswaldo Cruz conseguiu aprovar junto ao Congresso a Lei de Vacina Obrigatória.

A sociedade carioca tinha pouca informação sobre essa tal vacina e a resistência à Lei era baseada em explicações genéricas como supostos perigos causados pela vacinação até argumentos de cunho moral, como o fato da aplicação da vacina em regiões intimas.

A oposição foi tamanha que foi criada a Liga contra a Vacina Obrigatória e a população foi às ruas, fato que levou o Governo a declarar estado de sítio. Os confrontos deixaram 30 mortos e 110 feridos.

terça-feira, 26 de junho de 2018

Inflação e Dólar caro podem agradar o Governo?

Alguns fatores ajudam a explicar a recente valorização do dólar que hoje beira os R$ 3,80 na cotação comercial. 

O primeiro e mais relevante é a subida dos juros nos EUA. Grosso modo, os investidores levam seus dólares  para os países com melhor relação risco x retorno, juros mais altos na maior potência do mundo tendem a atrair o capital de investidores que antes apostavam em países emergentes como o Brasil.

Nesse sentido, o Banco Central brasileiro pouco pode fazer no médio e longo prazo para evitar este movimento. A saída mais fácil, caso se considere o dólar "caro" um grande problema, seria elevar os juros aqui no Brasil. Isso elevaria o retorno dos ativos brasileiros e conteria uma parte desta saída de capital.

Porém há dois problemas nessa ação, o primeiro é que um Banco Central sério tem como principal missão garantir o poder de compra da moeda, ou seja, manter a inflação dentro da meta. Assim, o gatilho para aumentar juros não deveria ser motivada pelo fato do dólar subir muito mas sim qual o impacto disto sobre os preços aqui no Brasil. Como somos uma economia relativamente fechada em termos de comércio exterior o repasse inflacionário do câmbio é bem pequeno por aqui, logo, o dólar teria que ficar muito mais caro para motivar uma elevação da taxa de juros brasileira.

O segundo problema é que, caso a percepção de risco do Brasil esteja se deteriorando, o prêmio exigido pelo investidor em forma de juros para manter seu capital aqui pode ser alto demais. Posto de outra forma, neste cenário o Banco Central pode ser obrigado a elevar a taxa de juros num patamar tão alto que o benefício de segurar a cotação do dólar pode ser menor do que o efeito recessivo de juros mais altos sobre o crescimento da economia.

Essa discussão está bem ativa no momento em virtude do contexto político deste ano eleitoral. As pesquisas realizadas até o momento mostram uma tamanha pulverização que tornou factível cogitar a viabilidade de políticos que até pouco tempo pareciam "carta fora do baralho" como o caricato Bolsonaro.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Preços Livres ou Tabelados, eis a questão!

Quem acompanha o blog deve recordar que em alguns textos citei a expressão atribuída à Albert Eisntein, de que um dos sinais de insanidade é repetir um mesmo procedimento e esperar resultados diferentes.

Nessa linha, as medidas anunciadas para apaziguar os ânimos dos caminhoneiros são experimentos muito parecidos (se não iguais) àqueles que ocorreram na década de 80 e 90 e nos jogaram num cenário de barbárie inflacionária.

Essa tentativa desesperada mostra a fraqueza de um governo que, ao invés de encarar os fatos e a restrição orçamentária do Estado, optou por ceder à pressão de uma classe e lançar mão de medidas toscas como tabelamento de fretes, subsídios à combustíveis e fiscalização de postos de combustível para garantir que os preços sejam reduzidos em 46 centavos e oxalá nunca mais se movam.

Esse conjunto de medidas desesperadas é tão trágico que chega a ser cômico. 

A Constituição Federal e a Lei de Defesa da Concorrência 12.529/2011 determinam que os agentes devem ter assegurada a liberdade de desenvolvimento da atividade econômica. Será que forçar uma empresa a pagar um preço mínimo no frete ou um dono de posto a manter o preço do diesel congelado é compatível com a liberdade econômica assegurada por estes textos? É no mínimo um questionamento que com certeza será feito por quem tiver que pagar um frete mais caro ou não conseguir reajustar seus preços.

Tentar fixar preços é muito provavelmente o pecado mais grave da cartilha de qualquer economista (sério) por ferir a lei mais básica lecionada na academia, a lei da oferta e da demanda.

domingo, 27 de maio de 2018

Nossa versão de Miss Sarajevo

A canção Miss Sarajevo (lançada em 1995) da banda U2 faz uma referência à Guerra da Bósnia, um conflito armado que ocorreu entre 1992 e 1995. A principal mensagem que "tiro" da canção é que mesmo naquele cenário caótico de Guerra, ainda havia tempo para algo, digamos, pouco útil, como realizar um concurso de beleza.

Ontem, nestas terras tupiniquins, Mayra Dias, representante do Amazonas, venceu o concurso de Miss Brasil 2018. Não estamos em Guerra Civil, porém o cenário decorrente da Greve dos Caminhoneiros causa impactos semelhantes ao de uma guerra, tais como desabastecimento e impedimento da livre locomoção das pessoas.

Em primeiro lugar, este escriba não é contra o exercício do direito de greve. Numa democracia temos que comprrender e seguir as leis e, de fato, a lei 7.783 de 1989 assegura este direito para que as entidades de classe defendam os interesses dos trabalhadores.

Porém, esta Greve passou dos limites impostos por esta mesma lei; o inciso primeiro do artigo sexto diz:

"Em nenhuma hipótese, os meios adotados por empregados e empregadores poderão violar ou constranger os direitos e garantias fundamentais de outrem."

Ademais o artigo nono também destaca que o sindicato ou liderança da paralização:

"... manterá em atividades equipes de empregados com o propósito de assegurar os serviços cuja paralização resultem em prejuízo irreparável, pela deterioração irreversível de bens, máquinas e equipamentos..."

sábado, 28 de abril de 2018

Efeito Halo e Conveniência

Um dos argumentos mais comuns no repertório da desonestidade intelectual é levantar estatísticas que contribuem para seu ponto de vista e omitir aquelas que não lhe convém.

Este tipo de comportamento lembra muito o Efeito Halo , o qual resumidamente fala que as primeiras impresões contam (e muito) e criam um viés que interfere a capacidade de julgamento das pesssoas.

Imagine que você no seu ambiente de trabalho ou de estudos tenha uma experiência desagradável com algum colega logo no primeiro contato. Suponha que por exemplo você testemunhou a pessoa falando mal de outros colegas ou reparou que ela fica constantemente em redes sociais ao invés de se dedicar à suas atividades ou mesmo viu esta pessoa "furando fila". Neste caso muitas pessoas teriam dificuldade de avaliar de forma imparcial estes indivíduos, por mais que nos dias posteriores a pessoa tenha mostrado outras qualidades ou mesmo que aqueles traços de má conduta tenham sumido, é difícil acreditar que a sua primeira impressão possa estar tão errada.

Quando falamos de Economia, por mais forte que sejam nossas convicções e vieses, há sempre algo que qualquer profissional sério pode fazer para obter uma avaliação imparcial, utilizar ferramentas estatísticas que validem sua hipótese de forma robusta e a diferencie de um mero chute ou opinião de buteco.

Pois bem, quando a Reforma Trabalhista do atual Governo foi implementada, partidos políticos caracterizados como de esquerda e mesmo o folclórico Eduardo Suplicy (que fica aqui o registro foi professor titular de Economia da EESP-FGV por décadas) saíram correndo para alardear sobre as mazelas da medida que reduziu empregos após implementada.

Curiosamente (ou não), essas mesmas pessoas não vieram se pronunciar publicamente sobre os 195 mil empregos criados no período de janeiro a março de 2018 conforme divulgado pelo CAGED na semana passada (série sem ajuste sazonal).

terça-feira, 10 de abril de 2018

Placar da Rodada e a Sensação de Violência

Num passado não muito distante no qual internet, smartphones e 4G/3G eram tecnologias embrionárias ou mesmo inexistentes, uma tarefa hoje banal como a de checar os resultados da rodada de futebol eram significativamente difíceis.

Nesse contexto, nos meus idos da década de 90 (na qual ainda não possuía acesso à Internet ou mesmo TV à cabo), num domingo qualquer que eu não podia assistir ao jogo do Palestra as 16 horas na Globo ou Bandeirantes e eu retornava para casa por volta das 19 horas, as alternativas para descobrir os resultados dos jogos eram:

(i) perguntar para alguém de casa ou o vizinho, caso eles tenham assistido aos jogos;
(ii) esperar até o horário dos gols da rodada no Fantástico;
(iii) acompanhar as discussões nos programas de mesa redonda (Gazeta Esportiva, Terceiro Tempo, etc);
(iv) sintonizar no rádio uma emissora esportiva e aguardar o locutor repassar os resultados;
(v) esperar até segunda-feira para comprar o jornal na banca da esquina ou assistir ao jornal matinal  na TV;

Hoje os leitores devem concordar que essa questão é resolvida muito mais facilmente. É possível com um smatphone assistir à jogos ao vivo de qualquer lugar que estivermos. Além disso os grupos de Whatsapp, Aplicativos e Internet são ferramentas de amplo acesso que nos deixam conectados 24 horas por dia. 

Isso não se restringe aos resultados de um jogo de futebol, hoje é muito mais fácil obter informação seja do lamentável uso de armas químicas no conflito na Síria, receitas culinárias de um chef premiado num reality show ou um roteiro completo da sua próxima viagem de férias.

No último post falei sobre a execução de Marielle e Anderson no Rio de Janeiro e de lá para cá houve diversos outros casos de violência tanto na "cidade maravilhosa" como no restante do país. 

quinta-feira, 15 de março de 2018

O que está acontecendo?

Hoje a Economia será pano de fundo pois é um dia muito triste. O assassinato da vereadora Marielle Franco no centro do Rio de Janeiro é uma das coisas mais brutais que me recordo aqui no Brasil.

Já não bastava a situação de calamidade da "cidade maravilhosa" que hoje está sob intervenção federal, esse crime foi um ato de barbárie num país no qual morrem mais pessoas do que na Guerra da Síria.

Isso mesmo meus amigos, viver no Brasil é tão perigoso quanto viver num cenário de guerra. Somos o país que mais mata em todo o mundo.

Não vou enganar ninguém, nunca havia ouvido falar de Marielle, não sabia de sua infância na Favela da Maré, de sua formação como socióloga na PUC-RJ e nem que havia recebido a 5a maior votação na eleição de vereadora (em sua primeira campanha).

Também não sabia de sua luta em defesa de minorias e da sua coragem de encarar de frente situações polêmicas como criticar abertamente o 41o batalhão da Polícia Militar que usava de força excessiva para lidar com a população das favelas.

terça-feira, 6 de março de 2018

Ganhar mais ou Gastar melhor?

Quando chega o fim do mês (as vezes até antes mesmo do fim) e vemos que não conseguimos poupar e investir parte da nossa renda, uma das primeiras hipóteses levantadas é a de que precisamos ganhar mais, ter um salário maior para compatível com os nossos gastos do dia a dia.

Num segundo momento começamos a ver o que podemos cortar ou substituir por alternativas mais acessíveis, diminuímos o número de refeições fora do domicílio, trocamos o carro pelo transporte público e até mesmo cogitamos mudar de casa para e mudarmos para uma região mais barata.

No final do dia, o melhor dos mundos é recorrer aos dois expedientes, ou seja, ser contemplado com uma promoção ou aumento salarial e diminuir gastos supérfluos ou não tão essenciais. 

Como ser promovido no trabalho não depende (no limite) de nós mesmos, com exceção de alguns políticos que votam o próprio aumento de salário, o melhor que podemos fazer para garantir uma situação financeira equilibrada é buscar sempre que possível alternativas de consumo de menor custo.

Duas matérias recentemente abordam a situação da Segurança Pública no Rio de Janeiro sobre estes dois prismas, de um lado a reportagem do UOL mostra que em 10 anos os gastos com segurança do Estado duplicaram enquanto a coluna de Marcos Lisboa aborda que esta elevação foi usado basicamente para cobrir o aumento expressivo da Folha de Pagamento de policiais da Ativa e Aposentados, deixando em segundo plano investimentos em veículos, armas e inteligência de combate ao crime.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O que queremos?

Na década de 90, o grande problema para ser resolvido era a Inflação. Foram lançados diversos planos (fracassados), inúmeras moedas em circulação e uma tentativa estapafúrdia de sequestro da poupança de milhares de brasileiros pela dupla Collor e Zélia.

Eu era um garoto mas lembro bem do ano de 1994 que marcou a vida de todos os brasileiros.

Ayrton Senna nos deixou no dia Primeiro de Maio daquele ano e nossas manhãs de domingo nunca mais foram as mesmas.

Em 17 de Julho, Baggio perde um penalty e o Brasil é campeão da Copa do Mundo após 24 anos; a conquista não apagou a perda de Senna mas encheu o país de alegria e principalmente de confiança.

No pano de fundo de lágrimas de tristeza e alegria, por meio da Medida Provisória 434, alguns políticos e economistas capitaneavam o Plano Real no início daquele ano, algo que mudou profundamente os rumos do nosso país.

A figura no final deste texto mostra a inflação medida pelo IPCA, não é difícil ver o impacto do Plano Real, saímos de um patamar de alta de preços mensal de 45% para uma estabilidade que perdura até os dias de hoje, apesar dos devaneios praticados no governo Dilma.

Apesar de ser consenso que o Plano Real resolveu o mais grave problema daquela época, é importante destacar que não foi um plano fácil de se digerir. Sem entrar tanto nos detalhes técnicos mas, para segurar a inflação e a cotação do dólar, o principal instrumento do Banco Central era  colocar a Taxa de Juros nas alturas.

Em outras palavras a inflação ficou sob controle, porém os Juros eram tão altos que desestimulavam o consumo das famílias e o dólar tão baixo que estimulava a importação em detrimento do produto nacional. Dá pra imaginar que a FIESP e economistas heterodoxos provavelmente não gostavam muito desse cenário, talvez no frigir dos ovos preferissem a inflação.

Com esses focos de pressão, como FHC, Gustavo Franco, Pedro Malan, Pérsio Arida e outros envolvidos conseguiram manter suas convicções e não ceder a tentação e liberar geral?

Basicamente, além de serem pessoas hábeis e acreditar nas próprias convicções, um fator importante foi o apoio do povo. Não à toa FHC foi eleito presidente no primeiro turno das eleições de 94 e reeleito em 98.

A inflação era algo muito "tangível" para a sociedade naquela época. Os últimos anos de relativa calmaria dão a impressão que somos imúnes, que nada pode trazer este passado nefasto de volta. Porém meus caros, sinto lhes informar que se não promovermos mudanças profundas no Gasto Público e em especial na Previdência, logo mais estaremos de volta aos galopes inflacionários dos anos 80 e 90.

Uma das lembranças que tenho é de ir na padaria com notas de Cruzeiro e o "tiozinho do Caixa" olhar uma tabela de conversão para URV e posteriormente para o Real. Eu ficava impressionado porque os Cruzeiros pareciam notas de Banco Imobiliário, você juntava várias delas, com números bem grandes e conseguia comprar algo como 5 pãezinhos.

Apesar das lembranças afetivas do ano de 1994 espero que ainda seja possível encontrar um caminho para que não marchemos à passos largos de volta àquela realidade. Não vamos nos iludir com o atual cenário de juros baixos e inflação sob controle, o mesmo repousa em bases tão frágeis quanto à própria credibilidade do governo, como disse no último post se nada for feito o Brasil de amanhã será o Rio de Janeiro de hoje.


domingo, 4 de fevereiro de 2018

E se proibíssem os Bloquinhos hoje?

Andando pelas ruas de São Paulo ou pelo metrô da cidade neste final de semana foi fácil ver como os Bloquinhos de Caranaval se consolidaram como uma grande atração para o paulistano.

Serão cerca de 491 desfiles do mais variados tipos e atendendo aos mais diferentes gostos e públicos. A grande concentração na região do Largo da Batata inclusive trouxe um certo caos à Linha Amarela de Metrô, a qual teve estações fechadas, invasão de trilhos e acionamento indevido de botões de emergência.

Tirando os impactos do precário nível educacional e falta de bom senso da média da população da cidade, o que fica patente é a grande demanda paulistana por opções de entretenimento, fato que também se reflete todo domingo com a invasão da Avenida Paulista por milhares de pessoas das mais diferentes tribos.

Se fechar Ruas e Avenidas da Cidade e autorizar músicos em trios elétricos ou em pequenas esquinas tem um potencial de atrair tanta gente, estas iniciativas deveriam ser estimuladas ou inibidas? 

Posto de outra forma, o que é melhor para a sociedade, a alegria de foliões trajados de unicórnios e noivinhas ou o sossego das pessoas que utilizam aquelas ruas e vias públicas para se locomover nas idas e vindas  de suas casas?

Mais do que defender um lado ou outro, o mais importante nesta análise é perceber que esta medida beneficiará um grupo em detrimento de outro, ou seja, haverá pessoas impactadas de formas diferentes pela mesma intervenção na cidade.

Os defensores dos bloquinhos irão falar que é uma medida extremamente barata de ser executada frente ao lazer que proporciona à milhares de pessoas. Os opositores irão levantar a degradação da cidade, o volume de lixo acumulado (e os posteriores gastos de limpeza da prefeitura) e o transtorno nas vias de trânsito e transporte público.

Hoje os Bloquinhos estão em alta, pelo que percebo tem amplo apoio, vide o número de pessoas nas ruas, e aqui se destaca, dos mais variados níveis de renda. Mas o que ocorreria se no futuro o balanço de prejuízos superasse os benefícios de lazer? 

Se no futuro houver mais lixo nas ruas, queixas de roubos, assaltos, tentativas de abuso sexual e vandalismo, como o Prefeito deveria abordar a questão se quiser convencer a população de que os Bloquinhos fazem mais mal do que bem para a sociedade?

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Ao Mestre com Carinho

Iniciei este Blog em Julho de 2015; desde então foram 87 postagens (algumas boas, outras reconheço não tão boas) numa média de quase 3 postagens por mês.

Neste tempo gastei muitas palavras com brasileiros (e alguns estrangeiros) os quais eu não tenho qualquer simpatia e estão longe de serem exemplos ou inspiração para qualquer um. 

Ouvindo as músicas de Cartola, pensei em variar um pouco e falar de uma pessoa que admiro tanto pela genialidade como pela simplicidade, mesmo sem este ser um economista.

Falar de Angenor de Oliveira "Cartola" é muito fácil, apenas organizei em bullets a história deste poeta genial. Cartola é um exemplo de como às vezes não valorizamos as coisas que temos de bom aqui nestas terras tupinquins.

Composições antológicas deste mito lhe renderam pouco dinheiro e sucesso, sua vida foi em grande parte marcada por "biscates", problemas com bebida e doenças das mais diversas. 

Atingiu o reconhecimento público e alguma fama quando já tinha cerca de 70 anos.

Isso tudo me faz refletir se não gastamos muito tempo falando de "mesquinharias", ou mesmo buscando incessantemente atingir uma posição de sucesso aos 30 e poucos anos, esquecendo assim de valorizar o que temos de belo neste mundo.

Ao Mestre fica essa pequena retrospectiva a qual no processo de pesquisa de dados só me fez dar ainda mais valor ao maior sambista de todos os tempos, na minha humilde opinião.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Para que analisar os Dados se já tenho a Conclusão?

Um dos erros mais comuns do ser humano é tomar conclusões precipitadas. Muitas vezes, vemos uma manchete de jornal interessante e antes mesmo de ler a matéria por completo, encaminhamos aos grupos de whatsapp ou soltamos a informação como um "bullet" na roda de amigos.

Quando se trata de um assunto banal como a eleição de Anitta para "A mulher do Ano" ou a nova contratação do seu time de futebol, ser impreciso ao expor sua ideia é inofensivo, porém quando se trata de economistas que analisam um dado com a mesma seriedade de quem vai à feira comprar alho e cebola é uma grande picaretagem.

O Ministério do Trabalho divulga mensalmente os dados de emprego formal no CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Para o mês de Novembro de 2017 as demissões superaram as contratações em cerca de 12 mil empregos.

Coincidentemente, Novembro foi o mês que entrou em vigor a nova lei trabalhista, a qual flexibilizou uma série de normas e instituiu, dentre outras coisas, o trabalho intermitente e a jornada parcial.

Não demorou para opositores de plantão lançarem o clássico bordão "eu avisei" para minar a eficácia da Reforma Trabalhista como geradora de empregos, porém há algumas inconsistências nesta colocação, principalmente quando realizada por economistas.

A primeira falha grave é um dos grandes debates da Econometria, a diferença entre correlação e causalidade.

Por exemplo no caso de criminalidade, bairros mais seguros em geral são aqueles com menor presença policial; com base nesse argumento a solução para diminuir o número de crimes seria tirar os policiais da rua? Obviamente não, as greves de policiais militares no Espirito Santo no início de 2017 e atualmente no Rio Grande do Norte são provas cabais de que essa não é a resposta.

No caso dos bairros de maior segurança há provavelmente alguma outra variável que de fato explica o baixo índice de criminalidade como por exemplo presença de vigilância privada ostensiva. Nesse caso relacionar a ausência de policiamento militar com maior segurança é o que chamamos de correlação espúria.

Responsabilizar uma Reforma que entrou em vigor no dia 11 de Novembro com a queda de empregos formais no mês, sem qualquer teste estatístico de causalidade, é um argumento tão consistente quanto o da Maldição de Ramsey, a qual diz que uma celebridade morre dias ou horas após o atacante britânico fazer um gol.