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terça-feira, 17 de julho de 2018

A Revolta da Vacina

Esse com certeza não é meu principal tema de debate porém é sem sombra de dúvida um dos que me deixa mais confuso e incrédulo. 

Uma notícia publicada ontem na  mídia me chamou a atenção, o Ministério Público do RS lançou uma campanha para alertar os pais sobre a vacinação dos filhos. Não obstante, o MP ressaltou que esta é uma obrigação legal e que estava preocupado com o grande número de pessoas que, seguindo notícias da gloriosa internet, deixaram de levar seus filhos para vacinação nos postos de saúde.

Ora, com certeza os estimados leitores conhecem alguém que ouviu algo no Facebook e passou a informação adiante como uma verdade absoluta, sem ao menos criticar a fonte. Isso é muito comum com relação à factoides políticos como por exemplo "o Político X é um ladrão", "o Governo Y só rouba" e outras coisas do tipo.

Porém, será que a sociedade está com valores tão deturpados que as pessoas conseguem se convencer facilmente de que vacinar seu filho é algo ruim?

Por mais curioso que pareça já houve no ano de 1904 uma grande Revolta Popular contra a vacinação no Rio de Janeiro. Na época, a cidade era  foco de inúmeras doenças, em especial a varíola. Nesse cenário o médico Oswaldo Cruz conseguiu aprovar junto ao Congresso a Lei de Vacina Obrigatória.

A sociedade carioca tinha pouca informação sobre essa tal vacina e a resistência à Lei era baseada em explicações genéricas como supostos perigos causados pela vacinação até argumentos de cunho moral, como o fato da aplicação da vacina em regiões intimas.

A oposição foi tamanha que foi criada a Liga contra a Vacina Obrigatória e a população foi às ruas, fato que levou o Governo a declarar estado de sítio. Os confrontos deixaram 30 mortos e 110 feridos.

Contida a Revolta, a vacinação obrigatória foi restabelecida e hoje, passados mais de 100 anos, uma série de doenças que assombravam tanto a população do Rio de Janeiro como o Brasil foram erradicadas.

É curioso pensar que tanto tempo depois podemos, com base em boatos de internet, estar assistindo à criação de uma nova Liga contra a Vacina Obrigatória. 

Pensando nessa questão há dois argumentos econômicos que podem ajudar as pessoas a compreenderem ou pelo menos cumprir a determinação legal imposta pelo Artigo 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o qual determina a obrigatoriedade da vacinação.

O primeiro argumento é o que chamamos Valor Esperado. Vacinas e medicamentos passam por diversos testes antes de serem fornecidas a população. Vamos supor que uma vacina após inúmeros testes mostrou que, em 95% dos casos, as pessoas vacinadas não apenas são imunizadas contra uma doença como também não sofrem qualquer efeito colateral. 

Nesse sentido, você preferiria vacinar seu filho com 95% de chance que além de protegido ele não tenha nenhuma reação negativa ou preferiria deixá-lo desguarnecido à sorte do destino e do seu sistema imunológico? Acredito que a maioria das pessoas deva preferir 95% de certeza em comparação a 100% de incerteza. O Benefício Esperado da vacina nesse caso é maior do que a alternativa de não vacinar. 

Mesmo assim, há ainda pessoas que preferem "pagar para ver" com a saúde dos filhos então há um segundo argumento, a Estrutura de Incentivos. 

Por mais que haja pessoas com pouco juízo a ponto de recusarem vacinar seus filhos, há ainda alguma esperança que estas pessoas entendam a importância da educação para as crianças. Nesse sentido, uma forma de elevar os índices de vacinação seria vincular a matrícula e rematrícula em escolas públicas e particulares à vacinação. Como a vacinação já é uma obrigação legal definida no ECA, as escolas auxiliariam a fiscalização do cumprimento da lei enquanto os pais teriam um incentivo maior a seguir os avanços da medicina e desprezar algum boato de que "vacina mata" ou é "coisa do diabo".

A função mais importante da história é olhar para o passado e tirar lições valiosas para o presente e para o futuro. Oxalá que casos como o do RS sejam  pontuais e que não seja necessária uma nova Revolta da Vacina para que a sociedade recupere o bom senso.





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