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quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Eleições e o Concurso de Beleza de Keynes

Inveja é um sentimento ruim, um dos famigerados sete pecados capitais. Se fosse possível nutrir alguma espécie de "inveja boa" por alguma pessoa, eu teria esse sentimento por John Maynard Keynes.

Seu livro "A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda" é o livro de maior impacto que já tive o prazer de ler, principalmente quando se coloca o contexto histórico em que foi lançado, pós crise de 1929.

No capítulo XII, Keynes sugere que as decisões dos indivíduos não são tomadas por suas convicções mas sim pelo que eles imaginam ser a opinião das outras pessoas.

O economista descreve um concurso de beleza em que os candidatos deveriam escolher 6 rostos dentre milhares de opções. O vencedor seria aquele que as escolhas estivessem mais próximas da média das opiniões. Não se trata portanto apenas de escolher os rostos mais bonitos, mas de escolher aqueles que mais se aproximam da opinião dos demais.

Contextualizando, imagine que você tem uma forte preferência por pessoas loiras de olhos claros, porém, acredita que na média as pessoas preferem em geral morenas de cabelo escuro, a estratégia para vencer este concurso seria abandonar sua convicção/preferência pessoal e selecionar rostos de acordo com a probabilidade de agradar o maior número de pessoas.

O leitor com certeza conhece alguém que provavelmente não leu Keynes mas justifica sua intenção de voto nesta eleição com base no chamado "voto útil", ou seja, não estou votando no melhor programa de governo ou no candidato com melhor histórico mas sim naquele candidato que tem maior probabilidade de vitória.
Pessoas que pensam assim, consideram irrelevante ou mesmo um desperdício afirmar sua convicção na eleição, acreditam ser mais útil tentar eleger o "candidato x" para que o "candidato y" não vença a eleição. 

No regime democrático de eleições diretas como o nosso, cada eleitor é soberano para decidir seu voto, não há uma regra ou teoria geral para definir se o voto útil é correto ou errado, é possível votar no candidato mais engraçado, no mais bonito ou mesmo anular seu voto se você assim achar melhor.

Além disso ninguém é obrigado a declarar seu voto abertamente aos amigos ou postá-lo nas redes sociais, seu voto é secreto e ninguém tem o direito de lhe julgar pelo candidato que você escolheu ou caso não queira revelar em quem você votou.

Porém não deixa de ser um experimento sociológico interessante a atual corrida presidencial, principalmente em tempos em que o twitter é usado como ferramenta oficial de comunicação de chefes de Estado e os debates transcendem as rodas de bar e grupos de amigos e invadem grupos de whatsapp e páginas de facebook.

Tenho minha opinião pessoal sobre o voto útil, mas em tempos em que a expressão "concordar em discordar" parece cada vez mais aplicável, principalmente na esfera de intermináveis debates políticos, acredito que pouco importa o que eu penso sobre tal estratégia.

O mais importante aqui é reafirmar a importância de examinar o passado para compreender o presente e tentar projetar o futuro. A Teoria Geral foi lançada em 1936 e hoje passados 82 anos eu compartilho um pequeno trecho da obra aqui. 

Esta eleição, por mais turbulenta que seja, deixará um aprendizado para nossa tão jovem democracia, a qual celebrou 30 anos em 22 de setembro deste ano, tendo como referência o encerramento dos trabalhos da Assembleia Constituinte de 1988 após décadas de Governo Militar. Só nos resta esperar que no futuro as lições aprendidas com as eleições de 2018 sejam bem aproveitados pela sociedade brasileira.












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