Um dos erros mais comuns do ser humano é tomar conclusões precipitadas. Muitas vezes, vemos uma manchete de jornal interessante e antes mesmo de ler a matéria por completo, encaminhamos aos grupos de whatsapp ou soltamos a informação como um "bullet" na roda de amigos.
Quando se trata de um assunto banal como a eleição de Anitta para "A mulher do Ano" ou a nova contratação do seu time de futebol, ser impreciso ao expor sua ideia é inofensivo, porém quando se trata de economistas que analisam um dado com a mesma seriedade de quem vai à feira comprar alho e cebola é uma grande picaretagem.
O Ministério do Trabalho divulga mensalmente os dados de emprego formal no CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Para o mês de Novembro de 2017 as demissões superaram as contratações em cerca de 12 mil empregos.
Coincidentemente, Novembro foi o mês que entrou em vigor a nova lei trabalhista, a qual flexibilizou uma série de normas e instituiu, dentre outras coisas, o trabalho intermitente e a jornada parcial.
Não demorou para opositores de plantão lançarem o clássico bordão "eu avisei" para minar a eficácia da Reforma Trabalhista como geradora de empregos, porém há algumas inconsistências nesta colocação, principalmente quando realizada por economistas.
A primeira falha grave é um dos grandes debates da Econometria, a diferença entre correlação e causalidade.
Por exemplo no caso de criminalidade, bairros mais seguros em geral são aqueles com menor presença policial; com base nesse argumento a solução para diminuir o número de crimes seria tirar os policiais da rua? Obviamente não, as greves de policiais militares no Espirito Santo no início de 2017 e atualmente no Rio Grande do Norte são provas cabais de que essa não é a resposta.
No caso dos bairros de maior segurança há provavelmente alguma outra variável que de fato explica o baixo índice de criminalidade como por exemplo presença de vigilância privada ostensiva. Nesse caso relacionar a ausência de policiamento militar com maior segurança é o que chamamos de correlação espúria.
Responsabilizar uma Reforma que entrou em vigor no dia 11 de Novembro com a queda de empregos formais no mês, sem qualquer teste estatístico de causalidade, é um argumento tão consistente quanto o da Maldição de Ramsey, a qual diz que uma celebridade morre dias ou horas após o atacante britânico fazer um gol.
O segundo erro grave é não levar em conta algo chamado Sazonalidade. Nada muda o fato de que mais pessoas foram demitidas do que contratadas em Novembro porém, será que parte dessa queda já ocorreria nesse mês independente de qualquer fator externo?
A definição mais didática que encontrei para vem de um link do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas):
A definição mais didática que encontrei para vem de um link do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas):
"Não é possível, por exemplo, comparar a safra de uma fruta no mês da colheita com o mês seguinte. É claro que, todo ano no mês da colheita, a produção será maior e isso não quer dizer que a agricultura andou mal no mês seguinte. É simplesmente o ciclo natural dela. Então, para que seja possível comparar esses dois meses, os economistas aplicam o ajuste sazonal, ou seja, uma fórmula que equilibra os números. O mesmo acontece se compararmos a produção de roupas em outubro com a de janeiro. Todo mundo sabe que em outubro as confecções estão fabricando as peças que serão vendidas no Natal, portanto elas sempre trabalham mais nessa época. O fato de que a produção de roupas em janeiro seja menor do que em outubro não representa nenhuma crise do setor têxtil, é apenas o ritmo natural do mercado. Para que as pessoas não saiam por aí tirando conclusões erradas, existem os ajustes sazonais, que adaptam os números à realidade de sua época."
As técnicas de ajuste sazonal grosso modo calculam fatores de ajuste com base em médias móveis. Economistas que ainda valorizam a arte do cálculo estimaram que, descontados os efeitos sazonais, o mês de Novembro de 2017 apresentaria geração positiva de emprego, cerca de 11 mil postos nas contas de Gesner de Oliveira e 17 mil pelos cálculos de Alexandre Schwartsman.
O motivo desta inversão após o ajuste sazonal é o desempenho recente do mercado de trabalho nos meses de Novembro; como referência nos ano de 2015 e 2016 as demissões no mês superaram as contratações em 130 e 116 mil postos respectivamente.
Meu desejo para 2018 é que, no debate econômico, a conclusão não se sobreponha ao método e que antes de soltar algo na mídia ou nas redes sociais, estes economistas lembrem-se minimamente das aulas de estatística e econometria que por ventura frequentaram.
Com isso acredito que conseguiremos subir o sarrafo da discussão de boteco para algo mais produtivo em 2018.
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