Num passado não muito distante no qual internet, smartphones e 4G/3G eram tecnologias embrionárias ou mesmo inexistentes, uma tarefa hoje banal como a de checar os resultados da rodada de futebol eram significativamente difíceis.
Nesse contexto, nos meus idos da década de 90 (na qual ainda não possuía acesso à Internet ou mesmo TV à cabo), num domingo qualquer que eu não podia assistir ao jogo do Palestra as 16 horas na Globo ou Bandeirantes e eu retornava para casa por volta das 19 horas, as alternativas para descobrir os resultados dos jogos eram:
(i) perguntar para alguém de casa ou o vizinho, caso eles tenham assistido aos jogos;
(ii) esperar até o horário dos gols da rodada no Fantástico;
(iii) acompanhar as discussões nos programas de mesa redonda (Gazeta Esportiva, Terceiro Tempo, etc);
(iv) sintonizar no rádio uma emissora esportiva e aguardar o locutor repassar os resultados;
(v) esperar até segunda-feira para comprar o jornal na banca da esquina ou assistir ao jornal matinal na TV;
Hoje os leitores devem concordar que essa questão é resolvida muito mais facilmente. É possível com um smatphone assistir à jogos ao vivo de qualquer lugar que estivermos. Além disso os grupos de Whatsapp, Aplicativos e Internet são ferramentas de amplo acesso que nos deixam conectados 24 horas por dia.
Isso não se restringe aos resultados de um jogo de futebol, hoje é muito mais fácil obter informação seja do lamentável uso de armas químicas no conflito na Síria, receitas culinárias de um chef premiado num reality show ou um roteiro completo da sua próxima viagem de férias.
No último post falei sobre a execução de Marielle e Anderson no Rio de Janeiro e de lá para cá houve diversos outros casos de violência tanto na "cidade maravilhosa" como no restante do país.
No caso do Rio por exemplo já foram registradas nos 3 meses deste ano 34 mortes de policiais. Outro caso emblemático ocorreu no mesmo dia do assassinato de Marielle, um menino de 5 anos presenciou o assassinato de seu pai à tiros; o acusado foi capturado há poucos dias.
Por esses e outros casos, quando reflito sobre este tema não consigo lembrar de um período tão violento na história brasileira e em especial no que se refere ao Rio de Janeiro. Porém, como um economista curioso, é de bom tom examinar o que os dados estatísticos apontam. Como os índices de violência do Rio de Janeiro estão hoje em comparação com o passado?
Matéria do Jornal O Globo com dados do Instituto de Segurança Pública mostra que o índice de homicídios para cada 100 mil habitantes de fato piorou nos últimos dois anos chegando a cerca de 37. Porém repare no gráfico abaixo que este indicador já foi muito pior, no ano de 1994 o Rio de Janeiro registrava cerca de 65 mortes para cada 100 mil pessoas, um número 75% maior do que o atual!
Alguns leitores mais jovens talvez não se recordem dos anos 90 porém, nessa época em que eu tinha dificuldade para saber o resultado do jogo do Palmeiras, o Rio de Janeiro já tinha é claro ressalvas quanto à segurança pública e certa ênfase à existência de grandes "favelas" e muitas pessoas em situação de fragilidade social, porém, na minha visão, hoje a sensação de violência na cidade é muito maior do que naquela época.
Grande parte disso eu atribuo (agora mais um "achismo" do que uma inferência estatística) ao aumento da velocidade dos meios de comunicação. Hoje temos bandidos que desfilam com metralhadoras ao som de funk e utilizam ferramentas como o Youtube para publicar vídeos ostentação. Além disso a sociedade possui muito mais voz com a consolidação das redes sociais e possibilidade de compartilhar parte desta opressão e sofrimento.
Por fim, destaco os dados do Estudo denominado Atlas da Violência elaborado pelo IPEA e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No ano de 2017 o estado mais violento do Brasil foi Sergipe com 58 homicídios para cada 100 mil habitantes seguido por Alagoas (52) e Ceará (46). A cidade mais violenta do Brasil foi Altamira a qual registrou 107 mortes para cada 100 mil pessoas seguida por Lauro de Freitas (97) e Nossa Senhora do Socorro (96).
O estudo também aponta que 10% dos municípios concentram 76,5% dos homicídios do país, um dado assustador que mostra uma concentração alarmante da violência.
Estes dados reforçam a triste realidade do nosso país, vivemos uma situação delicada no que se refere à segurança pública. É importante aproveitarmos os recentes acontecimentos como o caso Marielle para discutirmos não apenas o caos instaurado no Rio de Janeiro mas para também fazermos como sociedade um profundo debate sobre as causas e o combate à violência no país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário