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terça-feira, 6 de novembro de 2018

O Discurso

Foi uma eleição cheia de polêmicas, quebra de paradigmas, memes e brigas de família, mas enfim acabou!

Após a divulgação do resultado das urnas me chamou a atenção o tom dos discursos proferidos pelo candidato eleito e por seu oponente no 2o turno da eleição presidencial .

A eleição foi uma barbárie, não houve um debate sério de ideias e o que se viu foi uma grande troca de farpas numa disputa polarizada guiada pelo tal do voto útil, que grosso modo é escolher não com base em suas convicções e alinhamento com um plano de governo mas sim com a intenção de afastar um mal maior, seja ele o conservadorismo liberal de direita ou a perpetuação de uma esquerda que partiria para o 5o mandato presidencial consecutivo.

Nesse sentido, até entendo o fato de Fernando Haddad não citar Jair Messias Bolsonaro no seu discurso ou sequer ligar para o presidente eleito para lhe dar os parabéns. Antes que algum Bolsomion me chame de petista ou comunista, basta imaginar o oposto, será que Bolsonaro iria ligar para Haddad e citá-lo no seu discurso de vitória? Ao meu ver seria impossível, porém respeito quem acredita num suposto caráter superior do futuro presidente.

É muito fácil exigir do derrotado um discurso propositivo, que una o país e que tente diminuir tensões sociais quando você não é o derrotado. 

Casos raros na nossa história mostram homens e mulheres que, mais do que se colocarem como representantes de uma determinada ideologia, mostraram a capacidade de enxergar seu papel de influência numa democracia.

Dois discursos são extremamente emblemáticos nesse cenário, o primeiro é o do candidato republicano derrotado John Mccain (video aqui) na eleição do democrata Barack Obama. Vale muito assistir ao vídeo, mas destaco aqui o principal trecho no qual Mccain reforça a importância de ter a nação unida, mesmo havendo diferenças ideológicas entre o próprio candidato e Obama:

" O senador Obama e eu tivemos e discutimos sobre nossas diferenças, e ele prevaleceu. Sem dúvida muitas dessas diferenças permanecem.

Estes são tempos difíceis para o nosso país. E eu prometo a ele esta noite fazer tudo em meu poder para ajudá-lo a nos liderar através dos muitos desafios que vamos encarar.

Peço a todos os americanos que me apoiaram que se juntem a mim não apenas para parabenizá-lo, mas para oferecer ao nosso próximo presidente nossa boa vontade e nossos esforços mais honestos para encontrar modos de nos unirmos a fim de efetuarmos os compromissos necessários para superar nossas diferenças e ajudar a restaurar nossa prosperidade, defender nossa segurança em um mundo perigoso, e deixar para nossos filhos e netos um país melhor e mais forte do que o que herdamos.

Sejam quais forem nossas diferenças, somos todos americanos. E por favor acreditem em mim quando digo que nenhuma ligação jamais significou mais para mim do que essa."

O segundo discurso que me recordo é o do próprio Obama sobre a eleição de Donald Trump (vídeo aqui), no qual o então presidente fala à nação que "não somos democratas, não somos republicanos, acima disso nós somos americanos e patriotas que querem o melhor para esse país". Obama também reforçou que faria todos os esforços para que o próximo presidente pudesse executar o melhor serviço possível para o bem dos Estados Unidos.

Haddad e Bolsonaro tem envergadura moral e política muito inferior à de Mccain e Obama, porém não deixa de ser importante notar que, mesmo num cenário de duras divergências entre republicanos e democratas, ambos tiveram a hombridade de nortear seus discursos em direção a pacificação e união da sociedade, o que não vimos por aqui.

Por fim, não faço juízo moral de quem usa a religião na sua profissão, mas para um presidente eleito disse que governará com a Constituição numa mão e a Bíblia na outra vale uma pequena nota. ´

É muito fácil destacar num livro apenas os trechos que lhe convém, isso é tão sólido quanto avaliar alguém pelas fotos do Instagram, aplicativo no qual destacamos (via de regra) apenas os melhores e mais bonitos momentos. 

Acredito que o presidente deveria ler um pouco mais a Bíblia antes de proferir seus discursos, há uma centena de trechos que falam de amor ao próximo e compaixão que teoricamente o capitão reformado não leu ou finge não saber da existência. 

Uma religião não é um buffet self-service que você só escolhe as coisas que gosta e evita o que não gosta. Se for continuar com este discurso de "Deus acima de todos" espero que o presidente eleito seja mais consistente com o livro que teoricamente ele prometeu utilizar nos próximos 4 anos de governo.



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