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sábado, 30 de janeiro de 2016

Difícil de Explicar

Em meados de abr/15 Samuel Pessôa escreveu o artigo Por que não somos japoneses. Na época Leda Paulani num deslize que se observa em pessoas que defendem cegamente uma tese porém não empenham algumas horas de esforço para analisar e criticar dados básicos soltou a pérola:

"Qual é o problema de um país como o Brasil, pobre ainda, tendo de se construir como nação, fazer um deficit público de 6,7% do PIB? Por que o Japão pode ter 9% de deficit nominal e ninguém acha que o Japão está quebrado, acabado, destruído, descontrolado, sem condição?"

Os argumentos de Samuel para o perplexo questionamento de Leda destacaram indicadores da Baixa Demanda Agregada no Japão como a Inflação e Taxa de Juros próximos à Zero enquanto aqui em Terras Tupiniquins temos uma Inflação Elevada e uma Taxa de Juros Reais das mais altas do mundo.

Passados cerca de 9 meses o panorama não mudou muito, o Japão continua sofrendo com a Baixa Demanda Agregada e nós Brazucas com uma Inflação que não cessa mesmo com o Agravamento da Recessão Econômica.

Uma atitude recente que também demonstra diferenças entre Brasileiros e Japoneses está no comprometimento da Autoridade Monetária (Banco Central) em tomar as medidas necessárias para alcançar uma Meta de Inflação.

Enquanto o Bank of Japan (BOJ) em decisão inédita colocou a Taxa de Juros no terreno negativo (- 0.1%) como uma mostra do seu compromisso em combater o fantasma da Deflação que assola o Japão, Tombini e seus bluecaps resolveram manter a SELIC em 14,25% a.a. mesmo após afirmar que adotaria as medidas necessárias para trazer a inflação para meta em 2016.

Em Economia há uma grande literatura sobre o papel das Expectativas na formação de preços pelos agentes. Grosso Modo quanto mais crível o comprometimento da Autoridade Monetária maior o impacto nas Expectativas dos Agente quanto a Inflação e consequentemente menor seria a dose de Juros para resfriar a Demanda Agregada.

Nessa linha, o caso brasileiro ainda contou com uma trapalhada de fazer inveja à Didi Mocó Sonrizep Colesterol Novalgino Mufumbbo. Tombini numa decisão inédita divulgou em Nota Pública (um dia antes da Reunião do COPOM onde se definiria a SELIC) sua preocupação com a revisão do crescimento da economia brasileira nas projeções do FMI.

Coincidência ou não esse fato ocorreu logo após uma reunião entre o Presidente do Banco Central e a Presidenta da República, a mesma senhora que proferiu a frase "O Banco Central é Autonômo, mas não é independente".

Mas bem, mais do que ressaltar as diferenças entre a Credibilidade do BOJ e a do BACEN gostaria de focar na chamada Taxa de Juros Negativa.

A princípio o termo soa estranho, uma imagem que pode vir à mente é a de um Folder ou Propaganda de Banco duma Aplicação de - 0.1% e algum bordão como "Vem poupar com a Gente!".

Na prática o BOJ ao invés de remunerar, cobrará juros sobre o saldo das aplicações dos Bancos que ultrapassarem a Reserva Legal e o Compulsório (limítes mínimos que os Bancos devem manter depositados num Banco Central).

Basicamente o BOJ está forçando os Bancos a procurarem outras possibilidades de Aplicação dos seus Recursos, ou seja, ao invés de Comprarem Títulos Públicos Japoneses de rentabilidade negativa os Bancos buscarão outras formas de Remunerar seu Capital como Empréstimos e Financiamentos.

O Blog Descomplicador do Estadão fez uma matéria bem didática sobre este ponto e destacou também alguns dos motivos que dificultam ainda mais a tarefa do BOJ para elevar a Inflação como a Estrutrura Demográfica Japonesa.

E os Depósitos de Pessoa Física no Japão sofrerão impacto? Este é um bom ponto e o comunicado do BOJ foi bem específico quanto limitou esta medida aos Depósitos mantidos por Instituições Financeiras no Banco Central.

Pesquisas que fiz nos Bancos Privados Japoneses não indicam (por enquanto) que a Taxa de Juros Negativa será praticada no Depósitos dos Clientes mas este é um assunto para manter no radar; se os Bancos fracassarem em elevar sua carteira de Empréstimos/Financiamentos vejo três possibilidades: I - deixar esse dinheiro parado no "cofre", II - aplicar/emprestar estes recursos à outros países (ex: comprar Títulos Públicos Brasileiros) ou III - aplicar em títulos do BOJ com rentabilidade negativa.

No Brasil seria fácil imaginar uma alternativa adicional que repassasse o ônus ao poupador como elevação de tarifas para cobrir prejuízos com os Títulos ou mesmo um lobby no Congresso para possibilitar a cobrança de Juros Negativos na Caderneta de Poupança e CDBs. Acredito que o Japão mereça um voto de confiança e a princípio vou desconsiderar tal alternativa.

Destaca-se que a opção II é algo que nossa gloriosa Presidenta já chamou de "Tsunami Monetário" uma vez que medidas de estímulo como redução de juros nos Países Desenvolvidos muitas vezes não atingem o objetivo pretendido já que (supondo livre movimento de capitais) os Agentes Econômicos podem preferir investir em Ativos de Outros Países à Investir no Próprio País.


Vamos esperar para conferir qual Banco Central será melhor sucedido na sua respectiva missão.


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