Garret Hardin, biólogo com formação na Universidade de Chicago e Ph.D pela Universidade de Stanford, publicou em 1968 na Revista Science o Ensaio chamado a Tragédia dos Comuns.
O Estudo até hoje é uma referência para debates sobre o conceito de Propriedade Privada versus Bens de Uso Comum.
A base do ensaio são casos relatados na Região da Inglaterra entre os séculos XVIII e XIX de Criadores de Ovelhas (Pastores) que em algumas aldeias utilizavam uma mesma Área de Pastagem.
De forma simplificada cada ovelha adicional gerava:
I. Receita ao Pastor responsável pelo Animal
II. Maior Desgaste do Pasto
Hardin assumiu como hipótese que os indíviduos agem em geral de forma egoísta e visam Maximizar seus Lucros e Benefícios sem computar os efeitos negativos à comunidade. Reparem que sem uma regulamentação rígida o Lucro da Ovelha adicional é apropriado por um único indivíduo enquanto o Prejuízo do Desgate da Terra é compartilhado entre todos os pastores.
Dessa forma, em "economês", como os Pastores Maximizam seu Lucro sem colocar na conta a Externalidade Negativa do Desgate do Pasto o resultado de Equilíbrio seria um número de Ovelhas muito maior à capacidade de recuperação da Terra Comunal. Na Tragédias dos Comuns Hardin discute que invariavelmente nesses modelos a produtividade da terra caía rapidamente o que obrigaria os pastores a buscar uma outra área de pastagem, o chamado "pular de galho em galho".
De lá para cá muita coisa mudou como por exemplo o fortalecimento das Instituições. No caso dos ingleses o Prefeito (ou talvez o Duque) de um Condado ou Paróquia poderia cobrar uma taxa ou imposto por ovelha de cada pastor para conservação da Área Comum ou os Pastores poderiam se organizar na forma de Cooperativa de forma que tanto o Lucro da Criação de Ovelhas como os Custos da Manutenção do Pasto fosse compartilhado de forma igualitária.
Outro ponto contestado é assumir que os indivíduos agiriam de forma egoísta; outros autores criticam a Tragédia dos Comuns uma vez que em pequenas comunidades de pastores dificilmente um indivíduo aumentaria de forma relevante a quantidade de animais sem ser confrontado pelos colegas. Na visão destes autores a Tragédia dos Comuns seria mais uma exceção do que uma regra geral das Comunidades Inglesas no período do estudo.
Mais do que assumir como Verdade Absoluta a Tragédia dos Comuns é um conceito bastante útil para estudarmos o comportamento dos indivíduos quando os impactos negativos da sua ação são compartilhados com a coletividade como por exemplo a utilização de um veículo numa cidade com grande índice de congestionamentos.
Quando saímos de casa num veículo com capacidade de 5 pessoas mas no qual na maioria das vezes estamos sozinhos nosso cálculo mental é de maximizar nosso bem estar ao nos deslocarmos de um ponto ao outro. A utilização do carro é preferível à utilização do Trasnporte Coletivo em termos de conforto e rapidez.
Quando um número muito grande de pessoas pensa dessa mesma forma as Ruas, Avenidas e Estradas as quais são Compartilhadas por todos tendem a ficar cada vez menores (sic) para comportar o número de carros. Nosso mindset (emprestando um termo utilizado na Administração de Empresas) é muito parecido com o dos Pastores das Terras Comunais; um morador da cidade de São Paulo que decide utilizar o carro na hora do rush toma esta decisão pensando no conforto que irá auferir e que mais um carro na Av. Faria Lima ou na Av. Paulista não fará diferença. O Resultado são congestionamentos diários com grande parte dos carros com apenas um passageiro.
Nesse caso o Estado pode agir de forma a estimular um menor uso do Bem Comum (Estradas) e algumas opções clássicas seriam Investimentos em Transporte Coletivo, Pedágios nas Ruas e Avenidas de Grande Movimento, Faixas Exclusivas para Veículos com Mais de um Passageiro e o Sistema de Rodízio.
Por fim vale a pena exercitar este conceito para uma Empresa Pública. Se o maior acionista da Empresa é o Estado em última instância os donos da Empresa somos todos nós, parafraseando Armínio Fraga "é o meu, o seu, o nosso dinheiro" que financia uma Empresa Pública. Imagine que você é do Departamento de Compras da Empresa e possui duas opções de Equipamento:
I. Equipamento Estrangeiro: USD 1000 (cerca de R$ 3800 hoje) e considerado o mais eficiente do Mercado
II. Equipamento nacional: R$ 4000 porém de qualidade inferior
Acredito que se todos tivessem que optar escolheriam a alternativa I porém a maioria das Empresa Públicas limita a aquisição de Equipamentos Estrangeiros quando há um similar Nacional. Dessa forma o Comprador acaba por adquirir um Equipamento de Qualidade Inferior e Mais Caro.
Por trás da Tragédia dos Comuns está a mesma ideia que debatemos num post anterior sobre Benefícios Concentrados e Custos Difusos. No caso da Empresa Pública o Benefício é Concentrado ao Produtor do Equipamento Nacional e o Custo Distribuído para os acionistas da Empresa.
O exemplo pode parecer "forçar a barra" porém é exatamente como empresas como a Petrobrás funcionam e quem paga a conta da Ineficiência são os acionistas. Podemos discutir se uma Empresa Pública possui o papel de fomentar a Indústria Nacional porém é importante notar que isso impactará as margens de lucro da companhia e em alguns casos até mesmo causar prejuízos.
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