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sábado, 7 de novembro de 2015

A Carona

Um conceito interessante em economia e muito útil para entender os desafios de implementar políticas que beneficiem o coletivo é conhecido como Carona ("free rider"). Um exemplo clássico dos livros texto é o da contratação do serviço de TV a cabo numa república (aqui no sentido de moradia coletiva) na qual para simplificarmos há apenas um aparelho de televisão.

Suponha que há quatro moradores dos quais três deles concordem em pagar um aluguel maior para contar com um pacote de canais completo com direito aos Jogos do Brasileirão, UFC e Filmes On Demand. Se mesmo com a oposição do quarto colega eles decidam levar adiante a contratação há uma grande dificuldade em impedir que o "do contra" desfrute da comodidade do novo pacote de canais.

O leitor pode propor medidas como colocar uma senha de acesso à TV ou pedir educadamente que esse colega se retire da sala sempre que a TV estiver ligada porém é extremamente difícil evitar que pelo menos parte do benefício contratado seja usufruído por alguém que não colaborou um tostão por aquela medida e dessa forma pega carona na melhoria implementada pelos demais colegas.

Talvez você possa questionar por que neste exemplo os três colegas decidiram contratar a TV à Cabo mesmo sabendo que haveria um carona no processo. A Teoria Econômica diz que nesses casos um Bem ou Serviço será provido se a Somatória do Preço de Reserva de todos os participantes for superior ao Preço para Disponibilização deste bem ou serviço. O que isso quer dizer? Vamos supor que o Pacote neste exemplo tivesse um Custo Mensal de R$ 210,00 e que cada morador estivesse disposto à pagar (no máximo) os seguintes valores:


Morador A - R$ 100,00
Morador B - R$ 80,00
Morador C - R$ 70,00
Morador D - R$ 0,00

Repare que a somatória do valor máximo que todos querem pagar (R$ 250,00) é maior do que o valor do serviço logo o Pacote será contratado. Numa divisão democrática pelos 4 moradores o preço unitário seria de R$ 52,50 porém mesmo tirando o Morador D a divisão do valor mensal em R$ 70,00 per capitã ainda satisfaz os 3 colegas que pagarão um valor menor ou igual ao máximo que estariam dispostos à investir.

Esse ponto nos faz pensar no conceito de assertividade de Políticas Públicas ou que Beneficiem a Coletividade. Seria justo uma pessoa que não colaborou com o pagamento de um serviço usufruir do mesmo benefício dos outros que colaboraram ativamente? 

Há um grande debate de tópicos como este em Estudos de Transferência de Renda. No nosso exemplo o Morador D poderia ter justificativas de cunho social e pessoal para se opor ao pagamento do benefício e por isso os demais com melhores condições financeiras decidiram subsidiar TV à Cabo ao colega.

No nosso exemplo Microeconômico esta seria uma decisão democrática dos colegas porém no âmbito Macroeconômico a elevação da carga tributária para sustentar um novo benefício por exemplo pode também ser estudada sob este prisma. 

Imagine quando o Governo decidiu por exemplo conceder aos Trabalhadores Rurais o beneficio da Aposentadoria; sem dúvida estes trabalhadores possuem méritos para receber tal provento porém ao longo da vida os mesmos não contribuíram ao Sistema Previdenciário. Dessa forma a Aposentadoria dos mesmos é paga pela arrecadação dos demais trabalhadores que contribuíram à Previdência ao longo da sua vida profissional. 

O Importante aqui é entender que quando falamos em maiores benefícios (não apenas no âmbito Social, como também Subsídios à Grandes Empresas) necessariamente falamos de maiores tributos à uma parcela ou mesmo à toda população. Em casos que há a figura do carona é importante ter em mente que independente do mérito de um beneficiário haverá sempre uma parcela da população subsidiada pela outra.
 





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