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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Nunca se Sabe

Dia após dia ao abrir os jornais ou assistir ao noticiário na TV parece que estamos numa novela mexicana interminável cheia de intrigas aqui e acolá, aliados que se tornam os piores inimigos, suspense, emoção, indignação mas com a constante sensação de que o capítulo final ainda está longe de chegar.

Poderia falar mais sobre a inflação, ajuste fiscal e o crescente déficit nas contas públicas, recessão econômica ou o debate entre economistas ortodoxos e heterodoxos mas tentarei escapar destes tentadores assuntos e focar nos fundamentos da boa e velha ciência econômica. Isso não quer dizer que serão debates vazios e alienados pois sempre será possível traçar um paralelo com a realidade atual como notarão abaixo.

A pauta de hoje é um sujeito chamado Hjalmar Horace Greeley Schacht um economista pouco conhecido pelo grande público mas como uma história de vida impressionante.

Schacht foi o economista alemão que ocupou cargos equivalentes ao que conhecemos no Brasil como Secretrário do Tesouro e Presidente do Banco Central. Seu principal desafio foi lidar com uma inflação que atingiu em 1923 a taxa de 29.500% ao mês ou de 20,9% ao dia. Provavelmente quem vê estas cifras ou acredita que houve algum erro de digitação ou no mínimo pode considerar estranho considerarmos perigoso o atual patamar de inflação 10% ao ano aqui em terras tupiniquins. Veja abaixo uma nota de 100 milhões de Marcos daquela época:


O principal livro sobre Schacht é sua autobiografia Setenta e Seis Anos de Minha Vida que provavelmente o leitor interessado em adquirir só encontrará em sebos no centro velho ou na internet. Curioso destacar o título do livro em inglês é Memories of an old Wizard (Memórias de um Velho Bruxo numa tradução literal) talvez por considerarem que só na base da bruxaria para controlar uma inflação como a observada naquele período.

A essência daquele processo inflacionário decorre de um desequilíbrio orçamentário e nesse sentido possui semelhanças com a atual realidade do nosso país; já a sua causa não foi como aqui a utilização de Políticas de Estímulo à Economia. Grosso modo o processo lá decorreu das pesadas indenizações que o Estado Alemão foi condenado à pagar como derrotado na Primeira Guerra Mundial. Nesse cenário as receitas do governo eram insuficientes para arcar com os Gastos Públicos e Pagamentos aos Vencedores o que levou o país a utilizar a impressão de moeda como forma de financiamento de suas despesas.

Sem entrar nos detalhes técnicos de como a escalada inflacionária foi contida por este "Bruxo" é interessante destacar que não por coincidência Gustavo Franco que atuou de forma decisiva no Plano Real e estabilização da inflação aqui no Brasil é um dos principais estudiosos da vida e obra de Schacht.

Uma última curiosidade foi o fato deste Banqueiro Alemão trabalhar por anos no Governo de Hitler , talvez o mais triste capítulo na biografia deste economista. Se alguns acham que Levy é um missionário por tentar arrumar a bagunça na área econômica sob a batuta de Dilma Roussef podem agora acreditar que já houve um economista com um patrão ainda pior na história da humanidade.

Concluindo deixo um trecho do livro em que Shacht deixa alguns conselhos para Hitler sobre os perigos de uma política fiscal desregrada; quando um texto de 1939 contém um diagnóstico que pode ser aplicado nos dias de hoje há uma clara confirmação de que algumas leis econômicas permanecem válidas independente do passar do tempo:

" A moeda vem sendo ameaçada substancialmente pelos gastos desmedidos do Setor Público. O aumento desenfreado dos gastos públicos aniquila qualquer tentativa de um orçamento equilibrado, leva as finanças públicas à beira da falência, apesar do aumento imenso da carga tributária, e arruína com isso o Banco de Emissão e a Moeda. Não existe receita por mais genial e refinada, nem sistema de técnica financeira e monetária, nem organização e nem medidas de controle que sejam suficientemente eficientes para deter os efeitos arrasadores, sobre a Moeda, de uma administração de despesas descontrolada. Nenhum Banco de Emissão é capaz de manter a Moeda, contra uma Política de Gastos Inflacionária por parte do Estado. (...)"









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