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sábado, 5 de setembro de 2015

The Winter is Coming

A frase Winter is Coming (o inverno está chegando) é o lema da Casa Stark da série de televisão Game of Thrones baseada no romance de George R.R. Martin. Os que acompanham a série lembrarão que a região onde os Stark habitam já é extremamente fria e mesmo assim há o temor pela chegada de um inverno rigoroso.

Desde meados de 2014 já havia sinais claros de deterioração da situação econômica porém o baixo índice de desemprego e o controle (artificial) da inflação passavam uma falsa impressão de que tudo estava bem e não à toa a campanha política de reeleição do atual governo reforçou de forma incisiva o suposto Mar de Rosas pelo qual a Economia Brasileira (aparentemente) navegava.

Confirmada a reeleição, o Governo inicia o movimento de cavalo de pau na área econômica com aumento de juros, descongelamento dos preços de combustíveis e energia elétrica e diminuição de subsídios à indústria via BNDES e desoneração de impostos.

Para um pugilista que já vinha cambaleando no ringue esse combo não poderia resultar em outra coisa além de um knockout. Prova disto é a trajetória de crescimento do PIB se comparado ao trimestre anterior nos últimos 12 meses, respectivamente 0.1% no 3T14, 0.0% no 4T14, -0.7% no 1T15 e -1.9% no 2T15.


Mesmo com esse desempenho medonho que nos insere num cenário de Recessão Técnica (dois trimestres consecutivos de queda no Produto Interno Bruto) ainda é consenso entre economistas que o pior está por vir. Seria essa apenas uma visão/projeção pessimista?

Como debatido em outros posts um ponto controverso entre economistas é o impacto do aumento de juros no controle da inflação (principalmente no cenário atual). O passado nos aponta o quão nocivo pode ser um cenário de descontrole inflacionário e nesse sentido a utilização de todo arsenal possível para manter o crescimento dos preços em níveis civilizados é algo racional. 

Uma forma sadia de atingir tal meta seria aumentar a produtividade da economia porém isso não se faz do dia para a noite; investimentos em tecnologia e capacitação dos trabalhadores para concretizar o velho jargão de "fazer mais com menos" demandam tempo e estamos extremamente defasados na elaboração de um plano estruturado de longo prazo para aumentar a produtividade do país.

Dito isso e levando em conta que estamos num processo de resfriamento da demanda com juros elevados e aumento do desemprego muitos podem contestar a efetividade da elevação da SELIC uma vez que os preços ainda não caíram de forma significativa. 

Parte da resposta vem do fato que há certa defasagem entre as medidas aplicadas e a redução no consumo; as pessoas em geral se esforçam para manter o padrão de vida conquistado e postergam ao máximo o corte de gastos como o serviço de TV à Cabo e Internet, a frequência de Almoços e Jantares fora do domicílio e mesmo a procura por um imóvel em uma localidade menos nobre (em geral com um preço de aluguel ou compra mais acessível).

Dessa forma o primeiro movimento é a despoupança, ou seja, os indivíduos resgatam aplicações ou utilizam a verba indenizatória no caso de desligamento do emprego para manter o padrão de consumo. 

Não por coincidência o Saldo da Caderneta de Poupança se reduziu em cerca de R$ 50 BI no ano de 2015. Os dados do gráfico abaixo são do Relatório de Poupança do Banco Central:


Repare que em todos os meses do ano de 2015 houve mais regastes que aplicações. Se serve de algum consolo o saldo acumulado ainda é de R$ 645 BI porém a tendência é com certeza preocupante.

Como ressalva é importante destacar que parte dos saques da poupança podem ter sido direcionados para outras aplicações; com a Taxa Selic à 14.25% a.a. o Tesouro Direto se torna muito atrativo se comparado à remuneração de 0.5% a.m + TR da Caderneta de Poupança. Abaixo o gráfico elaborado pelo Estadão com os dados de novos investidores no Tesouro Direto:

O que reforça o pessimismo dos economistas é o fato de que provavelmente as pessoas mais pobres estão despoupando não para investir mas sim para arcar com as despesas do dia a dia. Como nada no horizonte indica melhora na geração de emprego e renda, no curto prazo é difícil acreditar que o pior já passou e bem mais provável imaginar o que o "inverno" em termos de desemprego e retomada do crescimento do produto ainda está por vir. 




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