Em alguns momentos a vida nos surpreende por não permitir que os frutos que plantamos sejam colhidos por nós mesmos. Por exemplo alguns devem lembrar que Neymar no início de carreira teve oportunidades no time profissional do Santos com o técnico Wanderley Luxemburgo que o apelidara na época de Filé De Borboleta. Hoje o garoto franzino é um dos melhores jogadores do mundo enquanto Luxemburgo não consegue ficar 12 meses no mesmo emprego.
De forma análoga nem sempre os frutos de uma Política Econômica aparecem de imediato, sejam eles saborosos ou não. O Plano Real foi sem sombra de dúvidas uma empreitada econômica de inequívoco sucesso porém não trouxe crescimento durante os anos em que foi implantado, ao contrário, convivemos com anos de crescimento baixo e desemprego alto com o benefício de finalmente ter uma inflação controlada em níveis civilizados.
O grande legado do período FHC foi fixar o chamado tripé de Política Econômica: Superávit Primário, Meta de Inflação e Câmbio Flutuante.
De forma sábia Lula ao assumir nomeia Henrique Meirelles (ex-banqueiro) para o Banco Central e mantém o tripé de Política Econômica. Estes fatores aliados ao crescimento chinês e valorização do preço das commodities colocaram o Brasil num ciclo virtuoso de crescimento até a Crise Mundial de 2008-09.
Comparando estes dois cenários com certeza há maior simpatia pelo Comandante que capitaneava a nau brasileira no momento de pujança e tendemos a desconsidera o papel daquele outro Comandante que no período de tormenta trouxe todos nós para mares tranquilos.
Pois bem voltando aos dias de hoje muitos falam que a "única saída" para o país é o Governo tomar as rédeas da Economia (em clara recessão) para ativar tanto a Demanda quanto o Espírito Animal de Empresário. Alguns ainda ressaltam que essa estratégia foi bem sucedida para nos tirar da Crise Econômica e esse papo de Ajuste Fiscal Ortodoxo só aprofundará a recessão.
Isso não é apenas um disparate mas acaba por misturar alhos e bugalhos. Primeiramente vamos lembrar porque foi possível lançar mão de políticas anticíclicas no cenário da crise econômica de 2008-09; como dito acima, uma conjuntura favorável e a manutenção do tripé econômico permitiu ao Brasil o seguinte desempenho nos anos anteriores:
- o país vinha de Superávits Primários (seguidos) de 3% do PIB
- a relação dívida/PIB saiu de 70% entre 2003/05 para 55% pré crise
- a inflação ficou ao redor da meta de 4,5% entre 2006 e 2008
- o Banco Central acumulara no período cerca de USD 190 bilhões em reservas
Hoje temos um Déficit Primário, a Relação Dívida/PIB (bruta) está em cerca de 65% a Inflação em 12 meses está no patamar de 9,2%. A única coisa que nos restou foram as reservas que hoje somam USD 370 bilhões; aliás se há um fator que nos ajuda a não entrar numa Crise Aguda é este "colchão" de divisas o qual será utilizado para (tentar) controlar a cotação do Dólar que atingiu recentemente R$ 4.24 marcando um novo recorde.
Frente ao cenário exposto no parágrafo anterior não entendo como alguns intelectuais (se é que podemos usar este termo) ainda defendem a utilização de meios heterodoxos para reconduzir o país ao crescimento econômico.
Como já fora exposto em posts anteriores já tentamos isto com o Intervencionismo do Governo Dilma por meio de um Caminhão de Crédito Subsidiado pelo BNDES, Desoneração Tributária para Setores Selecionados pelo Governo e Controle de Preços na Marretada e esse caldeirão de incentivos não foi efetivo numa época que estávamos melhores na foto. Por que hoje os resultados seriam diferentes?
Einstein afirmara que um sinal de insanidade é continuar fazendo as mesmas coisas e esperar resultados diferentes. Talvez alguém deva apresentar esta frase aos Economistas do PT, simpatizantes do Partido ou mesmo Estudiosos que ainda insistem que há Almoço Grátis em Economia.
Para tentar ser imparcial vale lembrar que alguns deles argumentam que se o Intervencionismo de Dilma não tivesse ocorrido a Economia teria se deteriorado ainda mais em seu mandato. Esse argumento é tão válido quanto um time de Futebol que se contenta por não ter sofrido um Rebaixamento para a Segunda Divisão. O país possui potencial para estar no G4 mas isso só será possível se quem comanda tiver consciência que não há atalhos via truques de Economágica para o sucesso.
No atual Cenário o Governo é um Homem no Deserto feliz por não estar na Chuva...não como se enganar e imagina uma travessia fácil. A recuperação da economia levará tempo e não será surpresa se ocorrer pela recuperação gradual do Tripé Econômico numa caminhada longa num ambiente inóspito.
PS: coincidência ou não em discurso recente a presidente afirmara que o Brasil estava saindo da Chuva; acredito que ela apenas se esqueceu de destacar o tamanho do Deserto que atravessaremos
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