Renato Manfredini Júnior, o Renato Russo da
Legião Urbana compôs a música Índios em 1986 na qual várias estrofes destacam o sentimento de perplexidade. Numa delas, aquela que “batiza” este post, Renato diz Que o que Aconteceu ainda está por vir E o Futuro não é mais
como era Antigamente.
O Governo Federal se consolidou no período recente como um celebre
contribuinte ao Humor nacional. Num período muito curto vimos a Presidente“saudar a mandioca”, “duplicar uma meta que não seria estabelecida” e agora em
6/ago veiculou um Programa Político bem humorado em que uma das
principais frases foi “não é melhor a
gente não acertar em cheio, tentando fazer o bem, do que errar feio, fazendo o
mal?” entoada dramaticamente por José de Abreu e seu bigode.
Não acertar em cheio é no mínimo um eufemismo
para os erros de política econômica cometidos nos últimos anos. Fato curioso
neste discurso é que, por mais que o Governo tente emplacar a imagem de “Grande
Timoneiro” que conduziu a Nau Brasileira em Mares turbulentos sem deixar um
tripulante ferido, muitas incongruências ficaram evidentes.
Primeiro, admitindo que as medidas tomadas
foram bem sucedidas para manutenção do emprego e renda num cenário
macroeconômico instável se esperaria que o formulador de tais políticas anticíclicas fosse saudado pelo Governo e
convidado a permanecer dado o expressivo resultado alcançado; traçando um
paralelo futebolístico se um time sem grandes jogadores ou grande orçamento mas com um Treinador criativo e ousado
conquista o Campeonato Nacional ou pelo menos uma vaga na Copa Intercontinental
é de se imaginar que este apareça na beira do campo no próximo ano correto? Não
foi o que aconteceu, o Ministro da Fazenda primou por “fazer o bem” mas já nas
eleições de 2014 fora sinalizado que seus serviços não seriam mais úteis ao
país.
Em parte alguns podem ter considerado essa uma
medida racional e inteligente uma vez que um Campeonato mais duro requer um
Treinador com um maior repertório técnico para encarar os desafios e
adversários desta nova fase; assim vejamos o arsenal que a Equipe Econômica
anterior utilizou para o “sucesso” da economia brasileira nos últimos anos
(destacados no programa de 6/ago):
- Corte de R$
38 bi em Impostos sobre Folha Salarial
- Corte de R$
17 bi em impostos da Cesta Básica
- Corte de R$
19 bi em impostos Micro e Pequena Empresa
- Corte de R$
32 bi em IPI
- Total
Renúncia Fiscal: R$ 106 bi
A Política Fiscal Anticíclica baseou-se em desonerar impostos para setores selecionados
pelo Governo seguindo a Tese de que esta renúncia tributária estimularia as
empresas a investirem, produzirem mais e manter o nível de emprego. O Ministro da
Fazenda na figura de um Técnico de Futebol não era um Pepe Guardiola mas seu
repertório de jogadas ensaiadas era vasto e passava por Concessão de Empréstimos Subsidiados via BNDES, Represamento do Aumento de Preços
Administrados (energia elétrica e combustíveis) e uma extrema Capacidade Contábil em Antecipar
Receitas Futuras e Postergar Despesas
Presentes. Para não prolongar muito o
post vamos focar na análise das desonerações que no nosso contexto pode ser
caracterizado como o “Chuveirinho na Área” dos jogos de futebol.
Imagine que
o País é uma empresa e a principal receita são os Impostos Arrecadados.
Considerando i a alíquota tributária média e Q a base de incidência dos
impostos a Receita Total da Empresa Brasil seria RT = Q*i. Caso haja uma
redução em i, a Base Q deveria aumentar para manter as Finanças “Saudáveis” e
evitar quedas acentuadas na Receita Total da Companhia. Grosso modo esta foi a
“aposta do governo” ao lançar o programa de desonerações; a arrecadação seria
mais do que compensada pelo estímulo dado à economia.
Vejamos
então o que houve com relação à Produção Industrial nos últimos anos:
As linhas azul
e laranja mostram respectivamente a Produção Industria Mundial e dos Países Emergentes
(CPD); as linhas vermelha e verde a Produção de Bens de Capital e Bens de Consumo
Durável do Brasil (IBGE).
A primeira
área em destaque mostra o período entre o boom das commodities e a crise econômica
de 2008; a segunda área hachurada inicia-se em abr/12 quando o governo anunciou um
pacote de desoneração de R$ 60 bi.
Reparem que
I – mesmo com os estímulos, a produção industrial brasileira entrou em visível declínio, II – a atividade industrial já está praticamente no mesmo nível do pior
momento da crise de 2008 e III – não se observa a mesma queda na produção
industrial do mundo ou mesmo dos países emergentes.
Nesse cenário simplificado, como a Produção Industrial não aumentou com os
estímulos do Governo, a arrecadação total (RT) se reduziu.
Se uma empresa observa uma queda nas receitas é recomendado diminuir as
despesas uma vez que se isso não for feito a alternativa quase certamente será aumentar seu endividamento para honrar os compromissos do mês.
Vejamos então o que ocorreu com a relação
Dívida/PIB do Governo nos últimos anos (fonte BACEN):
Após o
anúncio do programa de estímulos a Dívida Pública Bruta saltou de 52% para 63%
do PIB. Mais uma vez constatamos que não há Almoço Grátis! O Ajuste Fiscal e
Corte de Gastos Públicos que tanto se debate hoje é consequência direta duma política econômica mal sucedida que julgou ser possível
estimular o Crescimento Econômico com movimentos de Economágica e deixou como
legado a maior Dívida Pública Bruta dos últimos 9 anos.
O Governo
Federal pode tentar emplacar uma imagem de sucesso (parte pelo baixo índice de desemprego até o final de 2014) mas há tempos são nítidos os sinais de
esgotamento de diversos setores da Economia Brasileira. O primeiro mandato da atual Presidente foi marcado por uma fervorosa crença num futuro de mar de rosas que não se concretizou e agora a hora do ajuste de contas (ou das contas públicas no caso) chegou.
No atual
cenário falar em rede nacional aos brasileiros que “De uma crise econômica pode
se sair rápido” e que isso será feito com “Preços em Baixa e Emprego em Alta” é Acreditar que o Mundo é Perfeito e que todas
as Pessoas são Felizes.
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