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sábado, 28 de janeiro de 2017

Uma questão de Ponto de Vista

Há uma fábula sobre um Rei e um Vidente; buscando a interpretação um sonho o Rei recebeu uma notícia terrível, ele estava condenado à ver todos os que ama morrerem antes dele. Furioso com a interpretação ordenou imediatamente a morte do Vidente.

Solicitou que recrutassem um novo Vidente e ao solicitar uma nova interpretação ouviu uma noticia excelente, ele teria a mais longeva vida dentre seus familiares e teria a oportunidade de ver inúmeras gerações antes de falecer.

Conceitualmente ambas leituras são idênticas porém a forma que se mostra uma informação pode levar a reações totalmente opostas.

Em Economia Comportamental um livro referência já citado aqui é o Rápido e Devagar de Daniel Kahneman. Kahneman destaca diversos exemplos nessa linha como o de taxas de mortalidade de um procedimento médico; há uma reação negativa quando se destaca que 10% dos pacientes que passam por um determinado procedimento cirúrgico morrem e uma reação positiva quando se dá a mesma notícia destacando que 90% dos pacientes sobrevivem ao procedimento.

É preciso muita disciplina para não reagir desta forma em tais situações. Kahneman destaca que mesmo realizando o experimento acima para Médicos Experientes os mesmos reagiram da mesma forma que cidadãos comuns sem qualquer formação médica.

Assistindo à trechos da Operação Eficiência e o mandado de prisão do Empresário Eike Batista uma reportagem antiga veio à tona me deixou particularmente assustado (uma palavra estranha porém talvez seja a melhor definição para minha reação); Eike dizia:

"Eu me considero um Criador de Riqueza tal como um Compositor compõe uma música. As minhas notas por acaso são Dinheiro".

Mais do que soberba e arrogância o que me deixou assustado foi lembrar o número de Bancos e Analistas de Ações que recomendavam investir no Mozart das Finanças ou Midas Tupiniquim,

Veja por exemplo um trecho de um desses gurus:

"A OGX divulgou ontem seus resultados referentes ao primeiro trimestre de 2012. A empresa teve um prejuízo de R$ 144 milhões, bem maior do que os R$ 33 milhões registrados no mesmo período do ano passado. Segundo o analista Erick Scott, da corretora SLW, o prejuízo maior foi causado pelo aumento de 238% nas despesas com exploração de petróleo, que passaram para R$ 109 milhões no primeiro trimestre deste ano de R$ 32 milhões no primeiro trimestre de 2011.
O resultado, entretanto, não é negativo. O aumento das despesas com exploração se deve ao desenvolvimento da campanha exploratória da companhia, o que consideramos positivo, avalia o analista."
Calma lá cara pálida, o prejuízo quase quintuplica e essa é uma notícia positiva? É um ponto de vista um tanto quanto exótico, em alguns momentos algumas empresas podem até passar por períodos de prejuízo porém quais subsídios permitiam chegar à conclusão de que a OGX estava no caminho certo?

Falando em Análise de Empresas minha grande referência é o livro O Investidor Intleigente do autor Ben Graham, mentor do MegaInvestidor Warren Buffet. Ele cita alguns critérios cruciais para definir se uma empresa é um bom investimento. Destaco aqui alguns pontos e a resposta no caso das Empresas X de Eike:

I. Faturamento maior que USD 100 mn? Não, as empresas em geral eram start-ups
II. Financeiramente Forte (Ativo Circulante maior que o dobro do Passivo Circulante)? Não, por serem start-ups a maioria possuía dívida alta e baixa Geração de Caixa
III. Lucros consistentes? Não, a maioria era deficitária
IV. Histórico de anos consecutivos de Dividendos? Não
V. Crescimento anual dos lucros? Não

Mesmo com tantos motivos indicando que o Grupo X não era um bom investimento o Mercado Financeiro comprou o Sonho de Eike e fez ainda pior, conseguiu convencer inúmeros que "Eike era o Orgulho do Brasil"como dizia Dilma Roussef em 2012.

Aliás, pobre Dilma, tento não criticá-la porém o histórico dela é muito vasto quando entramos no campo de pérolas comprometedoras como esta. No mesmo discurso Dilma disse que Eike "busca as melhores práticas, percebe os interesses do país e merece nosso respeito".

Em resumo, tudo é uma questão de ponto de vista, o que hoje parece um grande equívoco em outra época pode ter sido algo defendido e elogiado. Para não cair em armadilhas como essa é necessário foco e disciplina para fazer as perguntas certas e mergulhar fundo numa tese ou notícia, muito além da bela superfície que os nossos olhos conseguem ver num primeiro momento.



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