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sábado, 4 de fevereiro de 2017

Dinheiro pra que Dinheiro?

Dificilmente ando com dinheiro na carteira, esse é um costume de longa data por pensar que independente do valor qualquer centavo rende mais investido do que na minha carteira ou no meu bolso.

Hoje em dia a facilidade dos meios de pagamento diminuiu em muito a demanda por dinheiro em espécie (notas e moedas). Se no passado lojistas não se sentiam confortáveis em processar pagamentos de pequeno valor no Cartão de Débito/Crédito (em virtude das tarifas cobradas pelas máquinas) hoje em dia ocorre fenômeno oposto, a escassez de "troco" está causando um fenômeno oposto, os lojistas se encontram em apuros quando alguém decide optar pelo pagamento em espécie.

Nesse cenário a famosa tática de dar "balinhas" como troco é uma alternativa porém está longe de ser algo amplamente aceito por consumidores.

No final de Julho de 2016 o aplicativo de compartilhamento de viagens Uber começou a aceitar dinheiro como meio de pagamento. Quando li a notícia achei uma medida sem sentido, talvez pela minha postura de nunca ter dinheiro em espécie não consegui enxergar qual a vantagem de tal decisão.

Na semana passada utilizei o Aplicativo e não pude deixar de realizar este questionamento, de forma simples perguntei ao motorista o que ele achava da medida. Me surpreendeu o fato dele responder que havia uma demanda considerável de pessoas que optava por pagar em dinheiro.

Incrédulo com esta primeira resposta fiz um segundo questionamento: quem são essas pessoas? O motorista disse que grande parte dos usuários eram pessoas da periferia de São Paulo que solicitavam o serviço na categoria Uber Pool (tarifas mais baratas para quem topa compartilhar o carro com outros usuários).

Comecei a pensar com meus botões para testar mentalmente a hipótese "pessoas da periferia da São Paulo que optam pelo Uber Pool preferem pagar em dinheiro com maior probabilidade de que outras?"

Claro que aqui não há base de dados e o exercício é quase um chutômetro porém algo que corrobora esta hipótese é o fato de pessoas de menor renda terem menor acesso à crédito (ou restrições devido inadimplência).

Isto é algo que também escrevi aqui no caso de diaristas que preferem receber em dinheiro não apenas por hábito ou costume mas também por muitas delas possuirem contas correntes com dívidas no "cheque especial".

Se por um lado o Uber captou esta demanda de usuários sem cartões de crédito (ou que simplesmente preferem pagar em dinheiro) por outro a medida também trouxe uma externalidade negativa; a informação de que o motorista possui dinheiro (para troco ou do recebimento de outros clientes) aliado ao fato de que na opção Uber Pool além do motorista haverá potencialmente outras pessoas no veículo propiciou uma série de assaltos e sequestros relâmpago.

Hoje os motoristas do Uber se organizam para tentar convencer a empresa a cancelar a opção do pagamento em dinheiro. Se a solicitação será atendida passará pela análise de perdas e ganhos da empresa e estas serão cenas dos próximos capítulos.

O lado mais interessante dessa história é notar quão rápido essa onda de novas tecnologias e serviços impacta as relações sociais não só por criar novas facilidades mas também por trazer novas preocupações e desafios.



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