Nos idos da década de 90 havia este comercial do Biscoito Tostines em que um rapaz subia ao cume duma montanha onde um Sábio meditava e lhe questionava a pergunta tema deste post.
Seria a frescabilidade do Biscoito a responsável pelo número expressivo de vendas ou o volume de vendas e alto giro do produto permitia a disponibilização de biscoitos mais frescos dos que os concorrentes?
Pois bem, o que eu gosto dessa propaganda é a brincadeira que se faz com o conceito de Causalidade, extremamente importante em Economia apesar de muitos Cegos Apóstolos da Teologia do Almoço Grátis discordarem.
De forma simples há casos em que uma variável "a" pode causar (ou explicar) uma variação na variável "b" porém a recíproca pode não ser verdadeira. Em outros casos há uma grande correlação entre as variáveis e isso pode levar ao que chamamos de Correlações Espúrias.
Tive minha primeira aula de Estatística em 2005 num Curso Técnico e o Professor Sólon naquela época já elucidava este conceito numa Análise de Mortes Causadas pelo Câncer e Consumo de Água. Como todos os pacientes de Câncer consumiam Água (em menor ou maior quantidade) a Correlação entre as Duas varíaveis beirava o 100%.
Obviamente não podemos dizer que consumo de água causa ou eleva a probabilidade de uma pessoa ter Câncer ou que o fato de uma pessoa ter Câncer induz o Consumo de Água.
Há outros fatores que devem explicar a doença bem menos triviais e mais difíceis de mensurar (predisposição genética, exposição à raios UV sem proteção, alimentação, etc).
Aquele exemplo foi tão elucidativo que me lembro dele e do rosto do Professor Sólon até hoje; claro que o nome peculiar do professor (uma homenagem ao legislador Grego) também ajuda porém exemplos simples nos ajudam muitas vezes a entender conceitos robustos.
Onde quero chegar com essa digressão; Os dados de Nov.16 das Contas Públicas (link do Bacen) continuam sofríveis e revelam o tamanho do desafio para alcançarmos um Superávit Primário por mais modesto que seja.
Em doze meses estamos com um Déficit Primário (Receitas - Despesas Antes de Juros) de R$ 157 bilhões, cerca de 2.0% do PIB. Quando falamos no Resultado Nominal (contado os Juros) temos um rombo de R$ 581 bilhões, cerca de 9.3% do PIB.
O sábio leitor já chegou a conclusão de que em grandes números pagamos mais de R$ 400 bilhões de Juros para os Malvados Rentistas e Corporações Financistas.
Não à toa muita gente crédula no Almoço Grátis afirma que o verdadeiro Ajuste Fiscal é reduzir a Taxa de Juros na marretada. Afinal ela é quase o triplo do famigerado Déficit Primário. Com toda essa grana poderíamos investir em Escolas, Hospitais e Estradas e trazer de volta o Crescimento para estas Terras Tupiniquins.... Será?
A pergunta chave é: A Conta de Juros é Alta porque temos Déficit Primário? Ou o Déficit Primário é alto devido à Alta taxa de Juros?
Em tempos de vacas magras é tentador acreditar que basta reduzir os Juros e boa parte dos nossos problemas se resolverá, aliás você teria um duplo efeito porque Juros reduzidos também estimulariam a Demanda e aí voaríamos sobre um vistoso Mar de Rosas....
Mas na prática a Teoria é outra, quem defende isso se esquece que num ambiente Político e Econômico bem mais ameno este remédio já foi experimentado; o resultado foi catastrófico, estagnação e alta inflação.
Como disse Gustavo Franco em artigo recente "não há cesta de 20 pontos"; todo país sério que atingiu um patamar de Juros Baixos e Inflação sob Controle só chegou lá porque em algum momento da história organizou as Finanças Públicas.
Aquele que não entende isso ou deveria estudar um pouco mais ou tomar algum remédio para este curioso tipo de Amnésia Seletiva, no qual se esquece qualquer dado que refuta sua hipótese em prol da crença cega num caminho fácil para sair desta crise.
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