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sábado, 3 de setembro de 2016

O Custo de Cozinhar

Hoje conheço inúmeras pessoas com gosto pela arte culinária; cozinhar não é mais um pesado fardo nem mesmo uma tarefa exclusiva do público feminino, uma visão cada vez mais antiquada nos tempos de hoje.

Inúmeros fatores colaboraram para essa mudança de hábitos e costumes como por exemplo um arranjo social no qual mulheres e homens possuem as mesmas atribuições tanto dentro como fora do lar.

Além disso a Internet e Canais de TV à Cabo contribuiram muito ao dar visibilidade de uma diversidade de receitas, sabores  e Chefs Renomados como o Britânico Jamie Oliver e o Francês Claude Troisgois que hoje dividem espaço com Ilustres Chefs Não Profissionais como o caso de Rodrigo Hilbert e seu Tempero de Família.

Outro fenômeno interessante foi o aumento da renda da população brasileira acompanhado do maior acesso à produtos culinários (importados ou não). 

Na minha infância mesmo em grandes supermercados quando falavamos de queijo era muito difícil imaginar tamanha variedade de queijos do tipo Brie e Emmental. Da mesma forma quando se pensava em cerveja era impossível vislumbrar uma prateleira de Belgas, Germânicas e mesmo Argentinas.

Dessa forma, se hoje podemos ir ao mercado e selecionar ingredientes utilizados pelos Grandes Restaurantes e assistir à vídeos detalhados de pratos rebuscados por que pagaríamos uma grana alta em refeições fora do lar? Ou melhor, se fossemos tentar replicar  uma receita famosa na nossa casa qual custo teria o nosso prato frente ao de um Chef Profissional?
Para realizar este exercício vamos supor que não temos grandes diferenças na Estrutura de Custos dos Insumos, ou seja, você e Claude Troisgois pagam o mesmo preço por um 1 kg de Salmão ou qualquer outro ingrediente.

Para ficar mais fácil a abstração também desconsidere custos indiretos como o Preço do Aluguel/Manutenção do Olympe de Claude e dos Garçons e Atendentes (economistas gostam de fazer modelos simplificados da realidade que apesar de não serem aplicáveis na prática permitem inferir respostas interessantes sobre alguns fenômenos; aqui usamos do famoso ceteris paribus das aulas de graduação, vamos ver o efeito de apenas uma variável mantidas todas as demais constantes).

Nesse modelo o que diferenciará em última instância o preço do prato é a habilidade do Chef. É muito difícil diferenciar o preço justo de 1 hora de trabalho de Claude versus o de 1 hora de trabalho de Jaime Oliver porém quanto custa 1 hora do seu trabalho?

Em Economia o Preço do Trabalho é o famoso Salário, o kereco keco que recebemos mensalmente pelo nosso esforço. A Teoria diz que os Agentes para executar um esforço demandam remuneração para compensar a perda de Utilidade/Prazer que possuem no conforto do lar.

Pois bem imagine que um indíviduo recebe na sua atividade profissional R$ 5 mil mensais por uma jornada de 40 horas semanais. Supondo meses de 20 dias úteis seria o equivalente a 4 semanas ou 160 horas por mês o que resultaria num Salário-Hora de R$ 31,25 (R$ 5.000/160).

Dessa forma, uma regra de bolso é que não importa se você irá gastar 1 hora na cozinha preparando um Carré de Cordeiro ou um Bife à Cavalo, o prato que você servir à mesa (seja ele saboroso ou não) já carrega um custo de oportunidade implícito de R$ 31,25.

Podemos traçar uma provocação interessante, um Indíviduo solteiro está mais propenso à Comer Fora do que outro que mora com Companheiro(a) e/ou Filho(s). Por que? Gastar 1 hora na cozinha para um prato indiviudal lhe impõe o mesmo custo financeiro de preparar uma refeição para um casal (no mesmo tempo). Nesse exemplo a refeição do casal na residência teria um Custo de Oportunidade Per Capita de R$ 15,62.

Pense da seguinte forma, nosso amigo no exemplo quando solteiro indaga-se:

- Gasto R$ 31,25 preparando meu almoço ou pago este valor para almoçar fora?

Enquanto o casado, juntado ou amasiado:

- Gastamos R$ 15,62 per capita para este almoço ou pagamos este valor para almoçarmos fora?

No primeiro cenário o leque de opções de restaurante de qualidade que você possui por um preço de R$ 31,25 per capita é maior do que do segundo cenário de R$ 15,62 per capita; logo indivíduo sozinhos possuem maiores estímulos para comer fora de casa.

Outra provocação interessante, qual seria o maior salário que este indivíduo estaria disposto à pagar para uma cozinheira preparar seu jantar nos 30 dias do mês? Grosso Modo R$ 937,50 (R$ 31,25*30).

Porém na vida real há Cozinheiras que preparam café-da-manhã, almoço e janta e recebem muito menos, qual a explicação? Basicamente o Custo de Oportunidade da Cozinheira é muito menor do que o deste indivíduo que recebe R$ 5 mil por mês.

Imagine uma cozinheira disposta a receber um salário mínimo por mês (R$ 880,00); o salário hora equivalente seria de R$ 5,50 numa jornada de trabalho de 160 hora mensais.

Repare que para cada hora trabalhada da cozinheira nosso indivíduo tem uma economia de R$ 25,75 (R$ 31,25 - R$ 5,50)  se comparado ao seu Custo de Oportunidade.

Por fim, uma última provocação, sob a ótica do Custo de Oportunidade, indíviduos com maiores salários estariam menos dispostos à cozinhar correto? Na teoria sim, porém hoje conheço muitas pessoas que possuem renda alta porém preferem preparar a própria refeição. Um dos motivos é que para estas pessoas a Culinária é uma atividade prazerosa então no cálculo da hora trabalhada na Cozinha há o cômputo deste ganho pelo prazer auferido. 

Dessa forma o Custo de Oportunidade de Cozinhar é menor do que o Custo de Oportunidade de Trabalhar para pessoas que gostam e/ou tem vocação Culinária.

Enfim, este é mais um exemplo de como nosso cotidiano pode ser um vasto laboratório para experimentos sob a ótica da Economia.









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