Prédios no Coração do Condado

Hoje uma série de posts do candidato a vereador em São Paulo Matheus Hector pintou em um dos meus grupos de whatsapp.

O rapaz que se declara um "hipster" que ama urbanismo e patinetes elétricos (lembra deles?) lançou a "braba", irá lutar para que você more mais perto das áreas nobres de São Paulo, conhecido por estas bandas como "O Condado".

Numa série de posts ousados, o jovem destaca que "você vai poder comprar um apê top no Jardim Europa".

Antes de falar sobre essa ideia um tanto quanto exótica para uma campanha política, fica a pergunta: você sabe quantos votos são necessários para ser eleito como vereador em São Paulo?

Resposta: em 2016 foram necessários 12 mil votos (Sâmia Bonfim - PSOL). Numa cidade com mais de 8 milhões de eleitores parece uma tarefa bem simples não? 

Só para ter uma ideia, Matheus Hector possui 6 mil seguidores no twitter, num mundo em que todos os seguidores votassem nele e convencecem um amigo ele teria grandes chances de ser eleito.

Mais do que falar de Economia, essa campanha me chamou a atenção por dois motivos: (i) estratégia e (ii) benefícios difusos.

O ponto (i) é bem simples e questão de lógica, é mais fácil lutar por 12 mil votos focando em uma parcela desses 8 milhões de eleitores do que tentar agradar a todos e ter uma pauta muito dispersa.

Nesse sentido o candidato maximiza sua chance de ser eleito escolhendo uma pauta específica, no caso de Matheus a galera do Mercado Financeiro e arredores da Faria Lima.

Essa estratégia tem uma segunda peculiaridade, dificílmente ela será replicada por muitos concorrentes. 

Imagine um vereador que queira focar em Saúde ou Educação, dentre os 2 mil candidatos deste ano, provavelmente muitos irão abordar estes temas, é o típico assunto "manjado". Porém, quantos destes vão lutar pra que você tenha um "apê top no condado"?

Não dá pra cravar que esta é uma estratégia vitoriosa, mas há uma clara lógica na escolha de um público-alvo muito específico neste caso.

Para o ponto (ii) não vou me alongar muito mas trata-se de uma curiosidade que abordei em outros posts sobre Custos Concentrados x Benefícios Difusos. 

Uma proposta de mudança de zoneamento no Jardim Europa para viabilizar prédios no coração do Condado tem o custo concentrado aos atuais moradores do local. Estes perderão um bairro arborizado, com poucos moradores em casas de alto padrão e terão que conviver com imensos prédios bloqueando sua visão que aumentariam o fluxo de pessoas.

Já os benefícios são muito difusos, é difícil imaginar que há hoje um forte movimento de pessoas que tem o sonho de morar num prédio no Jardim Europa e iriam nas ruas protestar por mudanças no zoneamento.

A proposta do candidato parece de certa forma uma provocação para chamar a atenção das pessoas, usar um argumento folclórico para promover a discussão sobre zoneamento e mobilidade. Talvez haja de fato uma demanda de pessoas que queiram morar mais perto do Condado e "sofram" com a baixa oferta de imóveis. 

Se isso for verdade, a estratégia de focar em um público alvo ganha ainda mais força nessa campanha.

O 1o turno ocorrerá dia 15 de novembro, será interessante acompanhar se esta estratégia será vitoriosa ou apenas ficará a lembrança de mais um candidato folclórico em eleições municipais.