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quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Nicolas Cage e Afogamentos

É curioso como muitas questões voltam à tona, parece que gostamos de debater a mesma questão várias vezes na esperança de encontrar resultados diferentes.

Quando eu ainda estava na faculdade, nos idos de 2006 a 2010, era muito comum debater a diferença entre correlação e causalidade usando como caricatura a "sintonia" entre os filmes do Nicolas Cage e o número de afogamentos em piscinas num ano.

As tendências eram de fato muito parecidas, entretanto, podemos afirmar que, o aumento no número de filmes do ator aumenta o número de pessoas que se afogarão? Ou o contrário, que para combater os afogamentos em piscinas basta pagar para o Nicolas Cage ficar em casa e/ou proibi-lo de gravar?

Acredito que poucos discordarão que tal correlação é uma mera coincidência. Neste caso, podemos nos poupar do trabalho estatístico e apelar para o bom senso, porém, nem sempre é tão fácil assim.

O economista André Perfeito tuítou hoje um gráfico polêmico no qual mostrava a forte correlação entre o Preço do Cobre e o Crescimento do PIB do Chile. 

Levando em consideração o fato de que o Chile é um país rico em reservas desse minério, é de se esperar que haja correlação entre as duas variáveis, porém, podemos afirmar categóricamente que se o preço do cobre subir(cair) a economia chilena irá crescer(retrair)?

Para responder esta questão é preciso ser um pouco mais rigoroso, se por um lado é muito difícil imaginar a presença de um Ator de Hollywood causando uma força mística que afoga pessoas em piscinas pelos Estados Unidos, no caso chileno há inúmeras variáveis que impactam o crescimento da economia do país as quais podem apresentar um efeito causal em maior ou menor grau (além do preço do cobre).

Uma primeira questão seria entender o tamanho da "cobredependência" do Chile. Por exemplo, será que o país produz e exporta mais vinho do que cobre? Neste caso não poderíamos inferir que o que impacta de fato a economia é a exportação de produtos em geral (e não apenas o cobre)?

É tentador pegar duas variáveis e "lacrar" algo na internet ou numa roda de bar, porém acredito que um pouco de rigor nessas discussões não faria mal a ninguém, principalmente quando se trata de um economista falando de economia.

Talvez André Perfeito tenha sido irônico e seu tuíte não tenha passado de uma brincadeira tal como a do Nicolas Cage, mas nunca é tarde para lembrar que para toda questão complexa há uma resposta elegante, simples e errada. 


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