Claro que a caminhada que se inicia e se encerra num mesmo lugar não é inútil, quem corre sabe que a maioria das provas é assim, o percurso é tão ou mais importante do que a linha de chegada (que muitas vezes é a mesma da partida).
Porém, não deixa de ser emblemático nós nos desgastarmos tanto fisica e psicolagicamente para muitas vezes apenas retornar ao início.
Nessa vida, tal caminhada muitas vezes é motivada por objetivos como acumular recursos tanto para nós como para nossos familiares (ascendentes ou descendentes) e, dessa forma, proporcionar à todos um caminho menos árduo.
Por outro lado, algumas horas penso que entramos numa grande centrífuga que nos puxa para um certo destino aparentemente inexorável, sem sequer questionarmos os motivos desta caminhada.
Por que precisamos crescer profissionalmente? Por que precisamos acumular tantos recursos? Por que precisamos provar diariamente em jornadas de trabalho estressantes e cansativas que merecemos melhores cargos e remuneração?
Antes que me acusem de desestimular a ambição, ressalto que valorizo pessoas que buscam se aperfeiçoar e traçar vôos mais altos sempre que possível, mas acredito também que aqueles que por ventura não demonstrem tal ambição não devem ser discriminados.
Isso se deve em grande parte por enxergar hoje o quão importante é equilibrar estes dois lados: ter ambição mas também valorizar aquilo que já possuímos.
Muitas vezes projetamos nossa felicidade naquilo que ainda não temos, no cargo para o qual ainda não fomos promovidos, no carro ou casa que ainda não compramos, no(a) companheiro(a) que ainda não encontramos e nas viagens que ainda não fizemos.
E nesse sentido é muito fácil desprezar tudo aquilo que já temos, os amigos e familiares que estão ao nosso lado, o patrimônio (independente da magnitude) que foi construído, os momentos que já vivemos e os lugares que já conhecemos.
Essa é uma armadilha em que se cai muito facilmente, de forma quase inconsciente muitos de nós entramos num fluxo em que há um descontentamento constante, como se nossa vida fosse definida por aquilo que não temos, sendo que o mais correto, talvez, seria avaliá-la pelas tantas coisas positivas que já aconteceram.
O mundo está estranho, falamos muito no whatsapp e ao mesmo tempo essa hiperconectividade não se traduz em relações que nos permitam compreender verdadeiramente os anseios das pessoas.
Nesse mundo tão conectado é cada vez mais raro encontrar interesse genuíno, falta empatia, parecemos muito mais preocupados em compartilhar, discutir e lacrar assuntos tão distantes da nossa realidade enquanto questões tão básicas como perguntar qual o nome do próximo filho do seu amigo ou como está a vida do seu colega que se mudou para morar com a namorada parecem fúteis e irrelevantes.
Óbviamente é importante sim olhar para frente, pensar e discutir formas para chegar mais longe não apenas como indivíduo mas como sociedade e país, e isso passa pela discussão de políticas nos mais diversos campos micro e macro.
Porém de tempos em tempos me bate uma nostalgia de quando a vida era mais simples, de quando valorizar o presente parecia ser tudo o que importava.
O passar do tempo e a experiência nos fazem amadurecer, essas são palavras clássicas de qualquer adulto quando orienta alguém mais jovem. O que vejo hoje é que a idade nos faz compreender a importância de ter uma vida equilibrada.
Quem sabe seja uma visão muito particular e romântica, mas gosto de pensar que a vida é uma corrida que sempre podemos se mudar o "pace" sem que isso lhe impeça de concluir a prova.
Assim, mais do que buscar um tempo melhor ou superar um adversário, que possamos dar valor ao longo trajeto que percorreremos e desfrutar de forma inteligente e equilibrada da diversidade de paisagens, aclives e declives, buracos e sinuosidades que se apresentarem, e que os metros e kilometros já percorridos sejam valorizados com muito mais carinho do que o peso da distância que ainda percorreremos.
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