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segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Catarse e Letargia

Há algumas palavras e expressões que só usamos na vida quando queremos causar impacto como, por exemplo, numa redação de vestibular/concurso, num debate acadêmico, numa entrevista ao jornal ou mesmo numa roda de amigos.

Chega a ser curioso imaginar que apesar de um vasto vocabulário (vide a grossura dos dicionários que temos) acabamos usando muito algumas palavras e outras muito pouco. Ouso dizer que muitos morrerão sem sequer usar as palavras catarse e letargia, títulos deste post.

Segundo o Wikipedia catarse pode ser usada em diferentes contextos:
I.                    psicanálise – experimentar da liberdade em relação a alguma situação opressora
II.                  arte – reação diante de descarga emocional profunda
III.                religião – forte reação emocional presente em ritos e pregações

De um modo ilustrativo a catarse é quando algo muda de forma tão substancial que lhe deixa chocado, pasmo, espantado frente a reviravolta ocorrida na sua vida ou na de outra pessoa.

Já letargia tem dois principais significados:
I.                    estado de profunda e prolongada inconsciência, semelhante ao sono profundo, do qual a pessoa pode ser despertada, mas ao qual retorna logo a seguir
II.                  incapacidade de reagir e de expressar emoções, apatia, inércia ou desinteresse

A letargia apesar do nome pomposo é algo bem mais comum para nós do que imaginamos quando ouvimos a palavra. Talvez, um dia alguém crie uma gíria ou expressão popular como “essa aula é total letargia” ou “esse rolê é letargia pura”.

Mas por que resolvi tirar um dia para escrever sobre palavras sofisticadas?

Às vezes me ocorrem alguns lampejos quando estou diante de situações, digamos, peculiares. Estas palavras me vieram à mente ao constatar o papel de alguns políticos do House of Cards Tupiniquim, em especial Michel Temer e Aécio Neves.

As maracutaias que ambos operaram nos últimos meses para se manter no cargo no mínimo ferem a moral e os bons costumes da sociedade brasileira.

O Presidente em exercício usou emendas parlamentares, pressionou aliados e todas as artimanhas possíveis para barrar pela 2ª vez o processo de investigação que poderia culminar no seu afastamento.

Apesar de indícios que motivassem uma investigação mais profunda que inclusive poderia reforçar a inocência de Temer, o mesmo adotou uma postura muito parecida com um jogador que colocou a mão na bola na área e ao ser questionado pelo árbitro afirma que não precisa rever o lance na televisão, pois está com a consciência tranquila de que não fez nada errado.

Já Aécio deve ganhar o Prêmio Oléo de Peroba 2017 pela cara de pau em afastar o presidente interino do PSDB Tasso Jereissati e afirmar que fez isso apenas para evitar que este tivesse alguma influência nas eleições para presidência do partido para qual se lançara como candidato.

Aécio só está no cargo de Senador pelo corporativismo dos membros do legislativo que em decisão polêmica não levaram adiante decisão do Supremo Tribunal Federal a qual na prática iria afastá-lo do Senado e poderia abrir um precedente para que outros companheiros envolvidos em atitudes suspeitas também fossem afastados pelo STF no futuro.

No meio de tanta coisa repugnante, por que a sociedade não se revolta? Por que as pessoas não estão nas ruas protestando contra políticos que pensam única e exclusivamente em se manter no poder?

A sociedade brasileira entrou num profundo estado de letargia... tentando compreender por quais motivos, algumas coisas vêm à mente como o ensaio de recuperação da economia brasileira, a proximidade das eleições de 2018 nas quais haverá a oportunidade de trocar boa parte destes políticos e mesmo a preguiça de quem já gastou energia recentemente para incentivar o impeachment de Dilma Roussef e entende que seu dever cívico já fora cumprido.

Infelizmente é difícil vislumbrar que a sociedade viverá uma situação de catarse (a segunda palavra pomposa deste post) decorrente do afastamento de Temer ou Aécio. Só nos resta então torcer para que de fato mudanças significativas no quadro político ocorram nas próximas eleições pois continuar com a politicagem brasileira do jeito que ela é hoje seria lamentável.


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