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domingo, 29 de outubro de 2017

Thaler e o Tique Azul do Whatsapp

No dia 9 de novembro foi anunciado o nome de Richard Thaler como vencedor do Prêmio Nobel de Economia 2017 ou para aqueles mais rigorosos o Prêmio do Banco da Suécia para as Ciências Econômicas em memória de Alfred Nobel.

Além de cerca de 1 milhão de dólares o prêmio é mais um marco para a Economia Comportamental, tema já tratado neste espaço algumas vezes principalmente destacando as contribuições de Daniel Kahneman, laureado com o Nobel em 2002.

Apesar de passados quase 20 dias da notícia, o que reflete em parte a dificuldade deste escriba em achar tempo para sentar e escrever, o fato de mais uma premiação da Economia Comportamental me fez pensar como o ser humano adapta ou modifica seu comportamento e forma de pensar. 

Uma forma didática de traduzir uma idéia é pensar em extremos, por exemplo, vamos imaginar a época em que Adam Smith escreveu o célebre livro A Riqueza das Nações (século XVIII). O famigerado exemplo da especialização de trabalho numa fábrica de alfinete mais do que reforçar a ideia de diferenças na produtividade dependendo do modelo de organização industrial refletia os dilemas de uma sociedade que começava a sentir os efeitos da Revolução Industrial e a migração do trabalho artesanal para a utilização de grandes máquinas.

Hoje os grandes dilemas da sociedade vão muito além de organizar uma atividade dentro de uma fábrica, aliás hoje a produção pode ser feita em qualquer parte do mundo e controlada em tempo real por meio de computadores que diminuem cada vez mais a ação do ser humano no processo.

Nesse sentido o conjunto de escolhas e decisões de um empresário hoje difere muito daquelas da época de Adam Smith, apesar de muitos dos aprendizados do seu livro ainda tanta coisa mudou que seria estranho assumir que o autor conseguiria antever de forma quase mediúnica tudo que estaria por vir.

Hoje o que mais me surpreende no comportamento humano é a reação frente às novas tecnologias e o fluxo de informações. 

O aplicativo Whatsapp de longe assumiu uma posição de criticidade na sociedade à ponto de ser a principal ferramenta de comunicação pessoal e profissional para diversas pessoas. Hoje a comunicação via mensagens de texto e áudio no aplicativo junto com a funcionalidade de ligações via internet jogou para escanteio os planos telefônicos com grandes pacotes de voz. Basta um smartphone e uma rede de wi fi e você tem o mundo nas suas mãos literalmente.

Das funcionalidades do whatsapp me chama atenção o tique azul que marca quando a mensagem foi entregue e lida pelo usuário. Este mecanismo ao lado do status que indica se alguém está on line ou mesmo digitando criaram ou fizeram transparecer um comportamento curioso. Hoje as pessoas se preocupam com coisas do tipo:

- "por que a mensagem aparece como lida e eu ainda não tive resposta?";
- "por que o status está on line ou digitando só que a pessoa não envia logo a mensagem?"
- "por que no grupo a pessoa responde as mensagens mas não me responde em particular?"

Adam Smith certamente não imaginava que o trabalhador na fábrica de alfinetes iria gastar algum tempo com esses dilemas.

O ponto é, será que o ser humano sempre teve este comportamento subliminar ou a nova tecnologia criou ou exacerbou este tipo de reação?

No tempo das cartas e telegráfos provavelmente já havia algo semelhante como quando as pessoas não recebiam o retorno de uma correspondência, porém como o processo durava dias nos trâmites dos correios as pessoas provavelmente eram mais pacientes. Hoje com o whatsapp tudo é em tempo real numa sociedade cada vez mais conectada e ansiosa por ser vista, ouvida e lida.

Não à toa o próprio whatsapp permite que você desabilite essa funcionalidade e tenha um pouco do sentimento saudosista de não saber quando sua mensagem será lida ou respondida.

O ser humano é extremamente complexo e suas atitudes e decisões são guiadas e modificadas de acordo com inúmeras variáveis e condições que dificilmente podem ser simplificadas ou generalizadas como uma receita de bolo.

A pesquisa de Thaler e campo da Economia Comportamental nesse contexto são extremamente úteis para nos ajudar a ver um mundo em constante modificação no qual as decisões além de nem sempre racionais no sentido clássico muitas vezes sequer eram previstas nos livros texto utilizados nas diversas faculdades de economia.



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