Há diferentes graus ou níveis de
corrupção? Ou em outras palavras há corrupçãozinha
e corrupçãozona?
Para deixar mais claro vamos
exemplificar alguns casos:
I – passar por baixo da catraca
no transporte público após completar 6 anos de idade (idade limite da gratuidade
para crianças)
II – “baixar” ou assistir filmes
em links da internet ao invés de assinar os canais de TV à cabo ou Streaming
III – download de músicas fora
dos canais licenciados (sem pagar os direitos autorais)
IV – incluir um membro da família
ou despesas de terceiros na Declaração de Imposto de Renda para diminuir o
Imposto Pago
V – perceber que recebeu um troco
errado (à maior) e não comunicar a pessoa
VI – comprar um ingresso meia
entrada mesmo sem ser estudante na esperança de não pedirem a carteira estudantil
na porta do evento
Nestes exemplos bem singelos é
muito fácil buscar na memória e lembrar-se de alguém que já tenha cometido algum ou alguns dos atos quando não nós mesmos.
Um artifício explorado pelo ser
humano para amenizar ou mesmo apagar qualquer sentimento de culpa nessas situações
é traçar uma retórica de normalidade; argumentos como “muita gente faz o mesmo”,
“esse dinheiro não fará falta” ou “tem gente que faz coisa muito pior e saí
impune” estão nessa linha de suavizar algo que strictu sensu é errado e ilegal.
Quando se fala do cumprimento de
normas, leis e regulamentos via de regra só há duas posturas, a correta e a
errada. Tal como não existe a situação de estar meio grávida ou subir meio
degrau de uma escada não existe cumprir “mais ou menos” uma lei.
Há outra ideia nesse contexto que
é a de que o saldo de atitudes honestas compensa eventuais deslizes. Pessoas que pensam assim consideram que já são tão exploradas no trabalho,
pagam tantos impostos e convivem com tanta corrupção que também merecem uma vez
ou outra usufruir de uma ilegalidade digamos inofensiva, como assistir um Filme
ou Série sem pagar direitos autorais ou pagar meia entrada num Show ou Jogo de
Futebol mesmo sem ser elegível àquele benefício.
Eu cresci nessa realidade, num mundo no qual todo mundo sabia
que havia muita gente corrupta impune, no qual empresários ricos não iam para a
cadeia e no qual políticos sequer eram investigados.
Hoje essa realidade está em transformação e espero que seja rumo à um mundo melhor no qual não somente os dilapidadores
megalomaníacos do patrimônio público sejam punidos mas que também a sociedade como um
todo seja cada vez menos tolerante com qualquer ato de corrupção, seja do
Presidente da República seja do seu irmão mais novo no computador da sua casa.
A Lava Jato é o grande chamariz do momento porém vale
lembrar que não é só o apartamento alugado para Geddel Vieira com R$ 51 milhões
de reais em dinheiro vivo que esconde ilegalidades; finalizo relembrando três
casos (alguns recentes, outros mais antigos) que mostram indícios de haver muita gente por aí construindo "impérios" de forma ilegal:
I – 1915 pessoas físicas trouxeram neste ano R$ 4.5bilhões do exterior não declarados anteriormente à Receita Federal
II – a máfia do ISS desviou cerca de R$ 500 milhões da
Prefeitura de São Paulo; integrante célebre do grupo era Luis Alexandre
Magalhães que em reportagem ao Fantástico dizia gastar cerca de R$ 5 mil
por dia com festas e garotas de programa
III – 32 bombeiros (incluindo comandantes) foram
presos como parte dum esquema que cobrava entre R$ 750 e R$ 30 mil de propina
para liberação de alvarás para locais muitas vezes inadequados colocando em
risco a vida da população
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