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domingo, 2 de abril de 2017

Papo de Buteco

Nas últimas semanas tenho passado grande parte do meu tempo em bares, butecos e similares mas na medida do possível acompanho também o Debate Econômico para o qual a pauta do momento é a Reforma da Previdência. 

Por mais estranho que pareça muitas vezes a qualidade dos argumentos de (alguns) Economistas não fica muito longe da que observo nas mesas de Bar.

Num buteco ninguém exige rigor acadêmico dos participantes da discussão e após algumas rodadas de bebidas é provável que argumentos inconsistentes passem despercebidos. Porém quando se trata de Mestres e Doutores titulares de Grandes Universidades que em alguns casos possuem inclusive grande Espaço na Mídia seria plausível acreditar que a argumentação fosse sóbria e apoiada num alicerce um tanto mais sólido de que uma lata ou garrafa de cerveja.

Não é bem o que parece por intervenções recorrentes da ala keynesiana dos economistas tupiniquins nas últimas semanas. Esperar que Wagner Moura e Camila Pitanga (apesar de excelentes atores) tenham profundo conhecimento estatístico e econômico é acreditar no conto da carochinha porém um Doutor em Economia deveria ter um pouco mais de rigor quando abre sua boca para vociferar uma tese que não se sustenta.

A bola da vez é a confusão com o Conceito de Expectativa de Vida. Uma rápida pesquisa no Google indica que no Brasil a expectativa de vida média ao nascer é de 75 anos. Os piores Estados nesse quesito são Piauí e Maranhão que apresentam expectativa média de 70 anos. Quando se discute a fixação da idade mínima de 65 anos para aposentadoria é muito fácil (e conveniente) dizer que é uma medida cruel e que milhões de brasileiros morrerão sem se aposentar.

Para acabar com essa falácia Alexandre Schwartsman publicou nesta semana a variável que realmente importa na análise da Previdência que é a expectativa de vida ao se aposentar. Diferentemente do primeiro conceito que é poluído por fatores como Mortalidade Infantil e a Criminalidade nos Estados e Municípios o gráfico elaborado por Alex mostra que no Brasil uma pessoa ao completar 65 anos possui uma Expectativa Média de Vida de 83 anos (vide abaixo).

Outro argumento que é fácil soltar numa mesa de bar ou na festa de final de ano da Globo é de que os mais pobres serão prejudicados pois para receber a Aposentadoria Integral terão que trabalhar pelo resto das suas vidas. 

Aqui o interprete do saudoso Capitão Nascimento dá uma derrapada que um "Economista Caveira" não poderia dar. Os mais pobres se aposentam via de regra recebendo um Salário Mínimo. Como este é o piso da Previdência a Reforma não irá alterar em nada o valor do benefício deste grupo social.

Pelo contrário ao criar mecanismos que desestimulem a aposentadoria precoce a Reforma irá impactar justamente aqueles de maior renda que terão que trabalhar mais se quiserem manter seu padrão de vida.

Tal como uma conversa de bar poderíamos ficar aqui discutindo por muito tempo este assunto porém o ponto central que destaco é que atualmente é muito fácil divulgar uma ideia e fazer muitas pessoas acreditarem em algo não porque há fatos e dados que a suportem mas sim por fatores subjetivos como a tenacidade do discurso do Wagner Moura ou nas Credenciais de uma pessoa que possui uma Coluna na Folha de São Paulo.

O que diferencia a Economia de um Papo de Buteco é a utilização da Estatística. Espero que mais cedo ou mais tarde, independente da convicção ideológica, mais economistas entendam que estes Debates não podem ocorrer no Clima de Bar com Coxinhas, Empadas e Cervejas e que possamos ter esse tipo de discussão com um rigor mínimo para sairmos de um Fla-Flu ideológico para uma conversa mais produtiva.

*Nota: coincidentemente Marcos Lisboa publicou hoje um texto muito parecido com este; longe de plágia-lo acredito que o barulho da rala discussão da Reforma da Previdência foi tão alto que fez diferentes pessoas pensarem na mesma temática


  

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