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sábado, 2 de abril de 2016

Orzare

A palavra Orçar deriva do Italiano Orzare, um termo usado em Náutica no sentido de Andar à Orça.
 
Uma definição mais clara dessa expressão é o Ato de Aproximar a Proa (parte da frente) da Embarcação na Direção do Vento.
 
Nunca tive a oportunidade de velejar e fiz essa rápida pesquisa para dissecar a origem da palavra Orçamento; mesmo assim talvez seja mais fácil entender os movimentos de Orçar e Arribar de um Veleiro do que a condução do Orçamento Público.
 
Na semana passada o Governo propôs a redução da Meta de Superávit de R$ 24 bi para cerca de R$ 3 bi. Porém, como minha avó já dizia, é sempre bom ler as "letras miúdas" das bulas e propagandas; o mesmo se aplica para qualquer medida proposta por nossos Políticos.
 
O governo propõe também uma espécie de perdão caso haja frustrações nas receitas previstas; na prática pede autorização para um Déficit de quase R$ 100 bi no pior dos cenários.
 
Agora o que é uma brincanagem (mistura de brincadeira com sacanagem) são alguns itens que o Governo considera como Receita Prevista, dentre os quais destaco:

+ R$ 14 BI com a CPMF (receita de um imposto que ainda não existe)
+ R$ 35 BI com Repatriação de Recursos (inicialmente eram R$ 21 BI; não me perguntem qual informação deixou o Governo tão mais otimista)
+ R$ 30 BI com Concessões de Infra Estrutura (sendo que as maiores empresas do setor estão sob invetigação na Lava Jato)
 
Só aqui temos R$ 79 BI em receitas com chance de ocorrer tão grandes quanto a de Nevar no Deserto do Saara.
 
Na prática o governo é um marido pedindo o chamado "vale night" para a esposa; para mim soa como "não quero lhe trair porém se eu tiver bebido mais de duas cervas num buteco com os amigos na quarta feira e acontecer algo não podemos considerar traição".
 
O detalhe é que o marido está toda quarta no bar com os amigos e duas cervejas são apenas o que eles pedem para acompanhar a porção de petiscos antes de começar o jogo de futebol.
 
Claro que há de se reconhecer pelo menos um mérito de Nelson Barbosa ao compará-lo com o Mago Guido Mantega, fazer este comunicado logo no início do ano ao invés de "dourar a pílula" até Novembro apostando em alguma Receita Extraordinária ou Lance de Contabilidade Criativa para cumprir a Meta de Superávit na chamada Marretada.
 
Chega a ser comovente ler as palavras de Nelson que este "Não é um Resultado confortável, não deixa o governo satisfeito, mas, no momento da retração, é necessário para o Governo atuar para estabilizar a Economia".
 
O motivo da minha comoção nem é o fato do Governo vir a público com o tom do "cão arrependido" mas sim imaginar que Nelson Barbosa (ou alguém do Planalto) acredita de fato que Dilma e seus bluecaps possam "estabilizar a Economia".
 
Quando vejo o prédio da FIESP na Avenida Paulista com a palavra Impeachment, executivos das maiores Empreiteiras do país na Cadeia e a maior empresa do país (Petrobrás) numa situação calamitosa fica claro que  apenas se Jesus Cristo tivesse descido à Terra novamente no último Domingo de Páscoa e assumisse o Ministério da Fazenda, a Política Econômica desse Governo teria alguma credibilidade para gradualmente nos tirar da Recessão.
 
Deixando o Impeachment de lado, esse Governo não possui e nem possuirá governabilidade até o final do mandato para adotar as medidas necessárias e promover as reformas estruturais que o Brasil precisa para retomar o Crescimento da Economia.
 
Dá para acreditar que o Congresso em ano eleitoral aprovará aumento de carga triburária/volta da CPMF? Dá para acreditar que alguma Empresa irá topar Investir em Portos e Rodovias quando nem sabemos quem será o Presidente da República no próximo mês? É muita brincanagem para o meu humilde gosto.
 
O ponto é que não há alternativa para o Governo, o caminho que grande parte dos economistas enxerga como o mais saudável no longo prazo é tratar as questões que levaram o Orçamento Público a ficar tão inchado e engessado.
 
Muito se discute da Reforma da Previdência e membros da Esquerda citam que é um absurdo mexer nos direitos da população para acertas as Contas Públicas. Para quem tiver a oportunidade, assista ao programa Roda Viva com Marcos Lisboa exibido em 28.mar (link aqui). Um dado impressionante que ele destaca é o fato do Japão ter o Triplo do número de Idosos do Brasil e gastar menos com Previdência em Percentual do PIB.
 
Independente de muita gente achar que devemos focar em reduzir as Despesas de Juros (baixando a SELIC na marra) para Acertar as Contas fica claro que apenas isso não resolverá o Problema pois há evidências de que o Gasto Público no Brasil é muito alto e na maioria dos casos de péssima qualidade como podem constatar quem já estudou numa Escola da Rede Pública ou dependeu do Sistema Único de Saúde (SUS).
 
Os ventos sopram em direção da queda do Governo (alguns dirão "ventos golpistas"); minha visão é que a Economia só irá se recuperar de forma sadia se a Nau Governista Orçar a Embarcação na direção que estes ventos golpistas ou não apontam ao invés de Arribar a embarcação e de forma teimosa insistir em Navegar na contra mão deste movimento e medidas que só irão mascarar a gravíssima situação Econômica do nosso país.
 
 
 
 
 
 
 
 

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