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sábado, 12 de março de 2016

O Dilema do Prisioneiro

Russel Crowe já foi Gladiador,  Robin Hood e Noé mas gosto de destacar sua atuação no filme Uma Mente Brilhante (Oscar de Melhor Filme em 2002) no qual representa o matemático John Nash (laureado com o Prêmio de Ciências Econômicas de 1994 pelo seu trabalho com a Teoria do Jogos).
 
Talvez hoje a parábola não seja tão popular entres os jovens porém uma cena do filme em especial representa de forma bem humorada uma das aplicações da Teoria; alguns colegas vão ao bar e há um grupo de garotas na qual uma em particular é muito mais bonita do que as demais. Se não houver algum tipo de coordenação entre os colegas o natural seria todos direcionarem esforços para tentar conquistar a garota "mais top da balada".
 
Nash de forma astuta entende que se neste cenário todos perderiam, esta garota teria tantos pretendentes e muito poder de barganha o que provavelmente levaria a um cenário que nenhum dos colegas se daria bem nessa noite e as demais amigas também voltariam para casa tão solteiras quanto chegaram ao bar.
 
Dessa forma uma boa estratégia seria direcionar esforços e atenção às outras amigas e deixar a garota mais bonita isolada de forma a reduzir o poder de barganha desta e maximizar, digamos, a probabilidade de sucesso de uma investida.
 
Nesse outro cenário muito provavelmente haveria maior chance de que casais fossem formados; depois de alguns minutos de conversa os colegas até perceberiam que as demais amigas não eram feias em termos absolutos mas apenas estavam ofuscadas pela beleza fora da curva de uma delas. Alguns colegas até desistiriam de tentar algo com a bonitona e o resultado global seria muito mais positivo.
 
A Teoria dos Jogos possibilita aos Economistas estudarem diversos cenários, em especial estratégias e motivos que podem dificultar o atingimento de uma solução ótima para uma Negociação,  Plano de Investimentos e Tomada de Decisões.

A pauta mais relevante no cenário nacional é sem dúvida a Operação Lava Jato e os possíveis desdobramentos para o Processo de Impeachment da atual Presidenta. Hoje fala-se muito da utilização de Delações Premiadas; alguns críticos ao instumento dizem que esta é uma espécie de Tortura dos Tempos Modernos na qual indivíduos são presos antes de uma Sentença Transitada em Julgado e praticamente coagidos a confessarem seus delitos em troca de uma pena mais branda. Os favoráveis argumentam que dado a relevância dos envolvidos (Empresários e Políticos do Alto Escalão) esta é a única forma de chegar à verdade uma vez que o processo de investigação tradicional não seria tão eficaz sem a colaboração dos próprios envolvidos.
 
Mais do que julgar o mérito dessa questão gostaria de colocar a questão Sob A Lupa do Economista (parafraseando o livro de Mauro Rodrigues e Carlos Eduardo Gonçalves) e da Teoria dos Jogos.
 
Suponha que executivos da Andrade Gutierrez e Oderbrecht são levados pela Polícia Federal e mantidos em prisão preventiva em celas separadas; há as seguintes possibilidades:
I - ambos não delatam e por falta de provas o processo é arquivado; ambos ficam presos apenas por 1 ano
II - ambos delatam e são punidos com 5 anos de prisão em regime semi aberto
III - se a Andrade delatar e a Oderbrecht não a primeira pegará 2 anos em regime semi aberto e a segunda 15 anos em regime fechado dada a comprovação do envolvimento desta pelas provas obtidas
 IV - se a Oderbrecht delatar e a Andrade não a primeira pegará 2 anos em regime semi aberto e a segunda 15 anos em regime fechado dada a comprovação do envolvimento desta pelas provas obtidas
 
Reparem que o melhor cenário é o número I, os dois ficariam de bico calado e na ausência de provas seriam liberados.
 
Porém tanto na Teoria como na prática observamos que este não é o cenário de equilíbrio; os envolvidos optam por delatar com receio dos cenários III e IV, ou seja, se eu fico calado e o meu comparsa abre o bico lascou, então vou logo abrir o bico para me proteger dessa hipótese.
 
Este cenário ficou conhecido como o Dilema do Prisioneiro e talvez até possa ter servido de base para a estratégia do Judiciário e Polícia Federal nas prisões da Lava Jato. Em geral os cenários da Teoria dos Jogos são expostos em Matrizes de Payoff como na figura abaixo: 
 

 
Não entrarei tanto no detalhe porém no cenário acima não há uma estratégia dominante e há dois equilíbrios possíveis: a) ambas delatam ou b) ambas não delatam.
 
Na vida real há mais casos de ambos delatarem; algumas linhas de pesquisa justificam isso por fatores psicológicos como o medo do comparsa não estar tão comprometido em ficar com o bico calado, principalmente após alguns dias na prisão.
 
Um outro cenário interessante ficou conhecido como Jogo do Ultimato. Você e um amigo estão caminhando pelo bairro e você acha uma nota de 100 reais porém seu amigo alega que você só passou naquela rua porque estavam indo para casa dele e quer uma parte da grana.
 
Este é um jogo sequencial, você fará uma oferta ao amigo e ele pode aceitar ou não. Se ele aceitar a divisão, vocês seguem a vida normalmente porém se ele não aceitar, ele rasgará as notas encontradas e vocês dois acabam com zero.
 
A Teoria diz que o resultado teórico que maximizaria os ganhos do amigo que encontrou a nota seria ofertar 1 real ao colega e ficar com os outros 99; afinal 1 real é melhor do que zero e seu colega não teria do que reclamar não é?
 
Pois bem, na vida real os indivíduos não raciocinam de forma puramente matemática; se a oferta for muito baixa há uma percepção de injustiça. O equilíbrio fica perto de uma dicisão meio a meio. Veja abaixo o vídeo desse experimento realizado com crianças dividindo moedas de chocolate.
 
A Teoria dos jogos ajuda a entender porque os indivíduos tomam decisões que fogem um pouco da lógica matemática pura; em muitos casos sentimentos de vingança, injustiça e desconfiança acabam impactando a decisão dos Agentes. Vale lembrar que o grande pilar do Impeachment de Fernando Collor passou longe da racionalidade e consistiu na denúncia do seu irmão, Pedro Collor, sobre as atividades ilícitas conduzidas por PC Farias (tesoureiro da campanha de Collor acusado de lavar dinheiro de doações de empresários; situação familiar não?).
 
Amanhã teremos uma série de manifestações contra a corrupção e o atual governo e os desdobramentos da Lava Jato estão longe de acabar.  Quanto tempo ainda durará esse Jogo não sabemos porém é nítido que a situação está cada vez mais insustentável e o que o país precisa  é virar essa página para focarmos esforços no Jogo que realmente importa, a Estabilização e Recuperação da Economia.
 
 
 
 
 
 

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