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terça-feira, 9 de outubro de 2018

Palavras ao Vento

Uma expressão popular diz que "há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida".

Aqui no Brasil os políticos desafiam parte desta expressão quando, não raramente, falam ou escrevem algo e logo depois voltam atrás, pedindo que os estimados eleitores desconsiderem aquilo que foi dito ou escrito em uma ou várias oportunidades.

Este é o caso do candidato Fernando Haddad e do Partido dos Trabalhadores que na página 17 do seu Plano de Governo defendeu a ideia de uma nova Constituição conforme transcrito abaixo:

"Para tanto, construiremos as condições de sustentação social para a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, livre, democrática, soberana e unicameral, eleita para este fim nos moldes da reforma política que preconizamos."

Mas fiquem tranquilos eleitores, ontem em entrevista ao Jornal Nacional, Haddad já voltou atrás e disse que o Partido reviu sua posição, desistindo dos planos de uma nova Constituição.

Situação idêntica ocorreu com a candidatura de Jair Bolsonaro, a qual teve que justificar a ideia levantada pelo candidato à vice-presidente General Mourão:

"Uma Constituição não precisa ser feita por eleitos pelo povo."

De forma análoga à Haddad, Bolsonaro também se apressou em dizer que tratou-se duma "canelada" do General Mourão, e que em seu governo haverá total respeito à Constituição. Segundo o candidato, Mourão aprenderá rápido as regras da política e não falará mais coisas deste tipo.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Eleições e o Concurso de Beleza de Keynes

Inveja é um sentimento ruim, um dos famigerados sete pecados capitais. Se fosse possível nutrir alguma espécie de "inveja boa" por alguma pessoa, eu teria esse sentimento por John Maynard Keynes.

Seu livro "A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda" é o livro de maior impacto que já tive o prazer de ler, principalmente quando se coloca o contexto histórico em que foi lançado, pós crise de 1929.

No capítulo XII, Keynes sugere que as decisões dos indivíduos não são tomadas por suas convicções mas sim pelo que eles imaginam ser a opinião das outras pessoas.

O economista descreve um concurso de beleza em que os candidatos deveriam escolher 6 rostos dentre milhares de opções. O vencedor seria aquele que as escolhas estivessem mais próximas da média das opiniões. Não se trata portanto apenas de escolher os rostos mais bonitos, mas de escolher aqueles que mais se aproximam da opinião dos demais.

Contextualizando, imagine que você tem uma forte preferência por pessoas loiras de olhos claros, porém, acredita que na média as pessoas preferem em geral morenas de cabelo escuro, a estratégia para vencer este concurso seria abandonar sua convicção/preferência pessoal e selecionar rostos de acordo com a probabilidade de agradar o maior número de pessoas.

O leitor com certeza conhece alguém que provavelmente não leu Keynes mas justifica sua intenção de voto nesta eleição com base no chamado "voto útil", ou seja, não estou votando no melhor programa de governo ou no candidato com melhor histórico mas sim naquele candidato que tem maior probabilidade de vitória.