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domingo, 28 de maio de 2017

Fatos Antecedentes

Quando falamos da análise macroeconômica é comum que alguns fatos antecedam a variável de interesse que estudamos.

Um exemplo de um fenômeno natural com essa característica é o movimento do mar numa onda (ou no extremo num tsunami) no qual primeiramente observa-se o recuo da água em direção ao oceano para posteriormente seu retorno em direção à terra.

No mundo das finanças isso é visto no movimento de ações para o qual a teoria em geral aceita a tese de que o preço hoje é uma função da expectativa de dividendos e geração de caixa futura. Dessa forma os preços sobem e caem no presente ante um fato que ainda não se realizou (maiores ou menores lucros nos períodos futuros).

Em ambos os casos é importante não confundir indicador antecedente com causalidade, ou seja, não é o recuo do mar que causa uma onda gigante da mesma forma que não é o aumento do preço de uma ação hoje que elevará a lucratividade de uma empresa porém ambos fenônemos, se analisados com rigor, podem auxiliar na elaboração de previsões.

Não à toa os modelos estatísticos de Séries de Tempo utilizados na Macroeconomia via de regra valem-se de variáveis defasadas; grosso modo olha-se o passado e o presente para suportar os diagnósticos quanto ao futuro.

Nesse sentido, quando falamos de recuperação da indústria há duas variáveis que gosto de olhar, Utilização da Capacidade Instalada e a Expedição de Papelão.

A primeira indica se o Empresário possui margem de manobra para elevar sua produção e quando situada em níveis elevados aponta uma pressão de demanda que em geral incentiva Investimentos em mais Capacidade Produtiva.

A segunda também nos dá algum indício sobre a Demanda por bens industriais uma vez que o Papelão é muito utilizado como embalagem destes itens e um aumento na utilização do mesmo aponta que a Indústria provavelmente está aumentado sua Produção.

Colocando isso num belo gráfico da última década temos:


Reparem que tivemos um mergulho profundo de 2008 até o início de 2009 seguido por uma forte recuperação ao longo deste ano até meados de 2010. De 2010 em diante a Utilização da Capacidade Instalada da Indústria vem caindo de forma consistente e temos indícios duma tímida inflexão no final de 2016.

A linha azul é a tendência da série para qual utilizamos a média móvel dos últimos 3 meses. Optamos pela série desazonalizada para termos uma visão mais clara de tendência.


Falando de Papelão temos algumas curiosidades; primeiramente não observamos uma queda abrupta em 2008 tal como na Capacidade Utilizada da Indústria mas nota-se crescimento robusto ao longo do ano de 2010. Argumento semelhante se aplica de 2010 em diante, aparentemente a redução na Utilização da Capacidade da Indústria desde então não impactou a Expedição de Papelão que apesar da sazonalidade está num patamar estável nos últimos anos.

Esta comparação me faz lembrar um ponto um importante do papel de qualquer análise de dados, nem sempre eles confirmarão suas crenças à priori e nesse sentido é fundamental ter o rigor e a honestidade intelectual de reconhecer que talvez suas hipóteses não sejam comprovadas na vida real ou que há algum fenômeno ou variável adicional que você não está levando em conta. Aqui me surpreende o fato de que a quantidade de Papelão cresce numa Expansão Econômica mas não cai numa Recessão.

O IBC-BR divulgado essa semana pelo Banco Central apontou crescimento econômico de cerca de 1% no 1o Trimestre de 2017 e nessa semana o IBGE divulga as Contas Nacionais com o número oficial do crescimento do PIB no período. Agora é ver como fomos e tentar projetar o que vem pela frente mesmo no conturbado cenário político que atravessaremos.


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