Em 1987 a Banda Legião Urbana lançava o Álbum Que País é Esse?. O single homônimo deste fala do desrespeito à Constituição por parte dos Agentes Públicos em contraste com a crença nacional em dias melhores..
No ano seguinte Cazuza lança o Álbum Ideologia no qual a música tema versa sobre o fracasso dos ideais dum personagem que acreditava na mudança do sistema vigente.
O Cenário Político e Econômico daquela época era de fato propício ao florescimento de manifestações artísticas similares às de Renato Russo e Agenor de Miranda (o Cazuza) - a ditadura militar acabara em 1985, Sarney era presidente, o país vivia tempos de hiperinflação e nem mesmo a mítica Seleção Brasileira de Futebol de 1982 conseguira trazer o caneco da Copa do Mundo - porém é curioso hoje reinar um aparente estado de Complacência em terras tupiniquins, no que pese os protestos ocorridos em 15/mar.
Retomando o paralelo musical ao analisar os dois maiores sites de cifras do país nota-se que a Música Sertaneja domina com folga o ranking de acessos no mês de Julho e o topo do pódio em ambos é do cantor Cristiano Araújo (o qual faleceu num trágico acidente neste ano). Digno de destaque é o fato da Legião Urbana criada em meados de 1982 ainda figurar na Terceira Posição em um deles e na Nona no outro em disputa acirrada com o Décimo Colocado, Wesley Safadão.
Voltando à Economia vale a pena comparar a evolução de alguns indicadores Sociais e
Econômicos da década de 1980 até a atual:
Econômicos da década de 1980 até a atual:
Resumidamente houve evolução visível nestes indicadores; o "brasileiro médio" hoje possui maior escolaridade e maior renda, a desigualdade (medida pelo índice de Gini) diminuiu sensivelmente e apesar dos pesares o país manteve um ritmo de crescimento, mesmo com a desaceleração significativa no período recente.
Outra variável de destaque nesta análise é a Inflação. Vejamos abaixo o comportamento do IPCA ao longo deste período:
Repare que na década de 80 e 90 a variação de preços mensal chegou a atingir o patamar de 80%. Após o Plano Real em 1994 a estabilização é notável e o gráfico para alguns pode lembrar o eletro cardiograma de um paciente vítima de uma parada cardíaca.
Se compararmos o patamar atual do IPCA que deve fechar 2015 com uma variação de 9% (no acumulado ano) com o da época de Renato Russo e Cazuza a atual preocupação dos Economistas (ou pelo menos alguns deles) pode parecer estranha para alguns.
Cabe a pergunta, ao olhar esta "trajetória de sucesso" e atestar a robusta evolução do país por que atualmente se fala tanto em Crise?
Sem entrar tantos nos detalhes técnicos e econômicos há algumas ressalvas que justificam a preocupação.
A primeira é o fato de que, na década de 80, a economia estava num estágio de deterioração tão grave que é difícil imaginar um cenário pior para comparação; é necessário fugir do papel do torcedor de futebol satisfeito neste ano porque ao menos o time escapou dum (novo) rebaixamento para as divisões de acesso; não se pode utilizar um desempenho pífio passado como paliativo para o fraco desempenho presente.
Um outro ponto pode ser relacionado com tragédias náuticas à exemplo da ocorrida com o Titanic; caso um Navio de grande porte não aviste a ponta de um iceberg ou mesmo ao avistá-la demore muito tempo para mudar sua trajetória o destino fatalmente será um acidente de graves proporções. Não corrigir o atual rumo da economia brasileira é subestimar o tamanho dum iceberg avistado de longe; o passar do tempo deixa a ameaça mais próxima e sabe-se que não é possível dar "cavalo de pau" num Transatlântico.
Essa analogia é bastante adequada na análise dos problemas econômicos da década de 80 os quais, grosso modo, resultaram de uma política de endividamento irresponsável do Governo Militar na década de 70. A má gestão da Dívida Pública (em conjunto com outros fatores dentre eles a deterioração do cenário externo) foi causa preponderante no desequilíbrio econômico dos anos posteriores; nesse caso não apenas o iceberg foi subestimado como o capitão colocou os motores à pleno vapor.
Mas enfim, que país é esse? O Brasil é um país muito diferente daquele da década de 80, houve conquistas sociais significativas que devem ser preservadas mas é preciso ser vigilante com os sinais de deterioração da Economia. Utilizando mais uma analogia é melhor prevenir uma enfermidade no início do que tentar remediá-la num estágio avançado.
O momento atual demanda uma postura crítica e atuante da sociedade para evitar que a sofrência seja a trilha sonora dominante nos próximos anos.
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