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sexta-feira, 26 de março de 2021

Sobre Perdas Mensuráveis e Imensuráveis

Quando se estuda modelos econômicos de criminalidade e vitimização, um fator que é muito difícil de mensurar é a perda de bem estar decorrente da probabilidade de ser vítima de um crime.

Trocando em miúdos, provavelmente há muitas pessoas que numa noite de verão gostariam de andar tranquilamente no calçadão da praia, no entorno da lagoa ou num parque, mas pelo medo de serem assaltadas (ou algo pior) simplesmente optam por ficar em casa.

Na realidade brasileira e de outros países com alta criminalidade isso é algo muito latente. Vivemos num contexto em que é normal criarmos táticas para tentar minimizar as possíveis perdas com crimes.

Por exemplo, muitos evitam sair com dinheiro em espécie e mais de um cartão de crédito na carteira ou possuem um celular reserva para levar em festas, uma espécie de preparação de bens que se forem furtados/roubados não nos prejudiquem tanto.

Em outros casos como o risco de ser agredido e/ou violentado não há muita alternativa que não seja se abster de programas sociais à certas horas da noite ou em certas localidades tidas como "perigosas".

Em síntese, a insegurança impõe uma restrição ao consumo e bem estar dos indivíduos.

Em tempos pandêmicos, o paralelo desta restrição ao consumo é bem direto. Medidas de distanciamento limitam o deslocamento das pessoas e consequentemente a possibilidade de desfrutar da corrida matinal no parque, o fim de tarde na praia e a resenha com os amigos no buteco da esquina.

Entretanto, há algumas particularidades. 

Por um lado, uma pessoa dificilmente anda tranquila com um celular caro e um relógio importado tarde da noite numa rua pouco iluminada, porém, ainda hoje vejo que é difícil para muitos compreender que estar na rua ou em aglomerações (num contexto de caos na saúde pública) é se expor à uma ameaça tão ou mais letal que um roubo/furto.