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sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Conversa de Araque

Talvez não seja uma expressão tão ouvida nos últimos tempos, mas quando pegamos alguém falando alguma mentira ou estória exagerada, podemos falar que esta é uma conversa de araque.

A palavra araque deriva da bebida alcoólica arábe "arak", um destilado feito com seiva de palmeira ou do arroz. Assim, a expressão foi criada para tratar de uma conversa entre pessoas geralmente embriagadas, dotadas de pouco discernimento após tomarem algumas doses de "arak".

Nesta eleição alguns economistas (se é que podemos chamá-los assim), na função de assessores dos candidatos à presidência, apresentaram ideias no mínimo esdrúxulas. Mesmo sem aparentemente terem tomado "arak" ou qualquer outra bebida alcoólica, algumas das medidas propostas parecem mais devaneios do que uma medida econômica.

Este é o caso por exemplo de Paulo Guedes, o economista por trás do candidato Bolsonaro, o qual atestou ser possível levantar R$ 1.0 trilhão em privatizações. Ora, o governo possui de fato este montante aproximado em ativos porém as participações em estatais (incluindo Petrobrás) somam cerca de R$ 250 bilhões, o restante são estradas, escolas e parques os quais Paulo Guedes não deixa muito claro como seriam privatizados.

Outra medida folclórica é o Programa Nome Limpo de Mauro Benevides e Ciro Gomes, isso mesmo Pai Ciro irá limpar seu nome do SPC! E como funcionaria na prática? Ciro iria negociar juros e multas e brigaria por um desconto de 70% referente aos juros abusivos da sua dívida. O saldo devedor seria financiado num esquema de aval solidário no qual, quando um devedor der calote, outros quatro seriam responsáveis pela dívida. Lindo não? Mas atenção, caso Ciro seja eleito, esta barganha só será válida para quem estava com o nome no SPC até 20 de julho de 2018.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Quinze Minutos de Fama

Começou o horário político! Talvez seja sintoma da idade porém confesso que estava ansioso para este momento, principalmente pela oportunidade de analisar a estratégia de cada candidato, com a ressalva dos diferentes tempos de TV, que variam entre 5 segundos a 5 minutos e meio.

Imitando o jogo de ligar os pontos, listei abaixo numa coluna os bordões apresentados no horário eleitoral de primeiro de setembro e na outra coluna os respectivos candidatos, a maioria é bem fácil de adivinhar mas não deixa de ser um exercício interessante:


Além dos candidatos folclóricos e (algumas) propostas estapafúrdias, estas eleições trouxeram uma novidade em comparação à outros que participei, nunca antes na história deste país houve um consenso quase unânime entre os candidatos de que Reformas Econômicas são essenciais para garantir a estabilidade do país.

Não à toa, além de debates e rodas vivas com os próprios candidatos, neste ano já foram realizados um número significativo de debates na mídia com os Economistas por trás destes 12 presidenciáveis. Há discordância no formato das Reformas que devem ser implementadas, porém três tópicos aparecem no discurso de quase todas as equipes: Previdência, Reforma Tributária e o fim de Privilégios para determinadas classes.

Este ímpeto reformista nem de longe é motivado por um planejamento de longo prazo visando o desenvolvimento do país, como quase tudo o que ocorre na política tupiniquim, medidas desta magnitude só são implementadas quando a água bate no pescoço, uma parábola que na atual conjuntura seria melhor traduzida como a água bate no teto (de gastos).

Apesar do aparente clima de tranquilidade que paira no ar (com exceção da escalada da cotação do dólar nas últimas semanas) estamos diante de uma bomba relógio alimentado pelo crescimento dos gastos públicos. 

A aprovação da PEC do Teto de Gastos em 2016 nos colocou numa situação limite em que medidas duras deverão ser tomadas para garantir a viabilidade do orçamento do Estado brasileiro nos próximos anos.

Nesse sentido as últimas notícias anunciadas de aumento de salários do judiciário e dos servidores públicos são preocupantes. De forma resumida, tudo mais constante, isso implicará num aumento de gastos do Governo, o que aumenta o risco de descumprimento do Teto de Gastos.

E o que acontece se rompermos o teto? As principais sanções seriam (i) proibição de elevar despesas como salários de servidores, (ii) proibição de aumento superior à inflação para o salário mínimo, (iii) proibição de abertura de concursos públicos e (iv) proibição de criação e expansão de programas e concessão de incentivos fiscais.

Estas consequências são o maior temor de qualquer candidato que se preze e não por outro motivo se discutem formas de diminuir o gasto público com salários e aposentadorias, cortar privilégios de funcionários públicos e, mesmo se isso for insuficiente, elevar ou criar algum imposto como as propostas de taxação de dividendos e maior tributação de heranças.

O reconhecimento e discussão de um problema é o primeiro passo para resolvê-lo. Resta esperar que aqueles quer forem eleitos neste ano mantenham esta discussão viva quando assumirem o poder. Afinal seria extremamente desapontador vivenciar novos episódios de estelionato eleitoral na política brasileira.