Alguns fatores ajudam a explicar a recente valorização do dólar que hoje beira os R$ 3,80 na cotação comercial.
O primeiro e mais relevante é a subida dos juros nos EUA. Grosso modo, os investidores levam seus dólares para os países com melhor relação risco x retorno, juros mais altos na maior potência do mundo tendem a atrair o capital de investidores que antes apostavam em países emergentes como o Brasil.
Nesse sentido, o Banco Central brasileiro pouco pode fazer no médio e longo prazo para evitar este movimento. A saída mais fácil, caso se considere o dólar "caro" um grande problema, seria elevar os juros aqui no Brasil. Isso elevaria o retorno dos ativos brasileiros e conteria uma parte desta saída de capital.
Porém há dois problemas nessa ação, o primeiro é que um Banco Central sério tem como principal missão garantir o poder de compra da moeda, ou seja, manter a inflação dentro da meta. Assim, o gatilho para aumentar juros não deveria ser motivada pelo fato do dólar subir muito mas sim qual o impacto disto sobre os preços aqui no Brasil. Como somos uma economia relativamente fechada em termos de comércio exterior o repasse inflacionário do câmbio é bem pequeno por aqui, logo, o dólar teria que ficar muito mais caro para motivar uma elevação da taxa de juros brasileira.
O segundo problema é que, caso a percepção de risco do Brasil esteja se deteriorando, o prêmio exigido pelo investidor em forma de juros para manter seu capital aqui pode ser alto demais. Posto de outra forma, neste cenário o Banco Central pode ser obrigado a elevar a taxa de juros num patamar tão alto que o benefício de segurar a cotação do dólar pode ser menor do que o efeito recessivo de juros mais altos sobre o crescimento da economia.
Essa discussão está bem ativa no momento em virtude do contexto político deste ano eleitoral. As pesquisas realizadas até o momento mostram uma tamanha pulverização que tornou factível cogitar a viabilidade de políticos que até pouco tempo pareciam "carta fora do baralho" como o caricato Bolsonaro.