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terça-feira, 26 de junho de 2018

Inflação e Dólar caro podem agradar o Governo?

Alguns fatores ajudam a explicar a recente valorização do dólar que hoje beira os R$ 3,80 na cotação comercial. 

O primeiro e mais relevante é a subida dos juros nos EUA. Grosso modo, os investidores levam seus dólares  para os países com melhor relação risco x retorno, juros mais altos na maior potência do mundo tendem a atrair o capital de investidores que antes apostavam em países emergentes como o Brasil.

Nesse sentido, o Banco Central brasileiro pouco pode fazer no médio e longo prazo para evitar este movimento. A saída mais fácil, caso se considere o dólar "caro" um grande problema, seria elevar os juros aqui no Brasil. Isso elevaria o retorno dos ativos brasileiros e conteria uma parte desta saída de capital.

Porém há dois problemas nessa ação, o primeiro é que um Banco Central sério tem como principal missão garantir o poder de compra da moeda, ou seja, manter a inflação dentro da meta. Assim, o gatilho para aumentar juros não deveria ser motivada pelo fato do dólar subir muito mas sim qual o impacto disto sobre os preços aqui no Brasil. Como somos uma economia relativamente fechada em termos de comércio exterior o repasse inflacionário do câmbio é bem pequeno por aqui, logo, o dólar teria que ficar muito mais caro para motivar uma elevação da taxa de juros brasileira.

O segundo problema é que, caso a percepção de risco do Brasil esteja se deteriorando, o prêmio exigido pelo investidor em forma de juros para manter seu capital aqui pode ser alto demais. Posto de outra forma, neste cenário o Banco Central pode ser obrigado a elevar a taxa de juros num patamar tão alto que o benefício de segurar a cotação do dólar pode ser menor do que o efeito recessivo de juros mais altos sobre o crescimento da economia.

Essa discussão está bem ativa no momento em virtude do contexto político deste ano eleitoral. As pesquisas realizadas até o momento mostram uma tamanha pulverização que tornou factível cogitar a viabilidade de políticos que até pouco tempo pareciam "carta fora do baralho" como o caricato Bolsonaro.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Preços Livres ou Tabelados, eis a questão!

Quem acompanha o blog deve recordar que em alguns textos citei a expressão atribuída à Albert Eisntein, de que um dos sinais de insanidade é repetir um mesmo procedimento e esperar resultados diferentes.

Nessa linha, as medidas anunciadas para apaziguar os ânimos dos caminhoneiros são experimentos muito parecidos (se não iguais) àqueles que ocorreram na década de 80 e 90 e nos jogaram num cenário de barbárie inflacionária.

Essa tentativa desesperada mostra a fraqueza de um governo que, ao invés de encarar os fatos e a restrição orçamentária do Estado, optou por ceder à pressão de uma classe e lançar mão de medidas toscas como tabelamento de fretes, subsídios à combustíveis e fiscalização de postos de combustível para garantir que os preços sejam reduzidos em 46 centavos e oxalá nunca mais se movam.

Esse conjunto de medidas desesperadas é tão trágico que chega a ser cômico. 

A Constituição Federal e a Lei de Defesa da Concorrência 12.529/2011 determinam que os agentes devem ter assegurada a liberdade de desenvolvimento da atividade econômica. Será que forçar uma empresa a pagar um preço mínimo no frete ou um dono de posto a manter o preço do diesel congelado é compatível com a liberdade econômica assegurada por estes textos? É no mínimo um questionamento que com certeza será feito por quem tiver que pagar um frete mais caro ou não conseguir reajustar seus preços.

Tentar fixar preços é muito provavelmente o pecado mais grave da cartilha de qualquer economista (sério) por ferir a lei mais básica lecionada na academia, a lei da oferta e da demanda.