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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O que queremos?

Na década de 90, o grande problema para ser resolvido era a Inflação. Foram lançados diversos planos (fracassados), inúmeras moedas em circulação e uma tentativa estapafúrdia de sequestro da poupança de milhares de brasileiros pela dupla Collor e Zélia.

Eu era um garoto mas lembro bem do ano de 1994 que marcou a vida de todos os brasileiros.

Ayrton Senna nos deixou no dia Primeiro de Maio daquele ano e nossas manhãs de domingo nunca mais foram as mesmas.

Em 17 de Julho, Baggio perde um penalty e o Brasil é campeão da Copa do Mundo após 24 anos; a conquista não apagou a perda de Senna mas encheu o país de alegria e principalmente de confiança.

No pano de fundo de lágrimas de tristeza e alegria, por meio da Medida Provisória 434, alguns políticos e economistas capitaneavam o Plano Real no início daquele ano, algo que mudou profundamente os rumos do nosso país.

A figura no final deste texto mostra a inflação medida pelo IPCA, não é difícil ver o impacto do Plano Real, saímos de um patamar de alta de preços mensal de 45% para uma estabilidade que perdura até os dias de hoje, apesar dos devaneios praticados no governo Dilma.

Apesar de ser consenso que o Plano Real resolveu o mais grave problema daquela época, é importante destacar que não foi um plano fácil de se digerir. Sem entrar tanto nos detalhes técnicos mas, para segurar a inflação e a cotação do dólar, o principal instrumento do Banco Central era  colocar a Taxa de Juros nas alturas.

Em outras palavras a inflação ficou sob controle, porém os Juros eram tão altos que desestimulavam o consumo das famílias e o dólar tão baixo que estimulava a importação em detrimento do produto nacional. Dá pra imaginar que a FIESP e economistas heterodoxos provavelmente não gostavam muito desse cenário, talvez no frigir dos ovos preferissem a inflação.

Com esses focos de pressão, como FHC, Gustavo Franco, Pedro Malan, Pérsio Arida e outros envolvidos conseguiram manter suas convicções e não ceder a tentação e liberar geral?

Basicamente, além de serem pessoas hábeis e acreditar nas próprias convicções, um fator importante foi o apoio do povo. Não à toa FHC foi eleito presidente no primeiro turno das eleições de 94 e reeleito em 98.

A inflação era algo muito "tangível" para a sociedade naquela época. Os últimos anos de relativa calmaria dão a impressão que somos imúnes, que nada pode trazer este passado nefasto de volta. Porém meus caros, sinto lhes informar que se não promovermos mudanças profundas no Gasto Público e em especial na Previdência, logo mais estaremos de volta aos galopes inflacionários dos anos 80 e 90.

Uma das lembranças que tenho é de ir na padaria com notas de Cruzeiro e o "tiozinho do Caixa" olhar uma tabela de conversão para URV e posteriormente para o Real. Eu ficava impressionado porque os Cruzeiros pareciam notas de Banco Imobiliário, você juntava várias delas, com números bem grandes e conseguia comprar algo como 5 pãezinhos.

Apesar das lembranças afetivas do ano de 1994 espero que ainda seja possível encontrar um caminho para que não marchemos à passos largos de volta àquela realidade. Não vamos nos iludir com o atual cenário de juros baixos e inflação sob controle, o mesmo repousa em bases tão frágeis quanto à própria credibilidade do governo, como disse no último post se nada for feito o Brasil de amanhã será o Rio de Janeiro de hoje.


domingo, 4 de fevereiro de 2018

E se proibíssem os Bloquinhos hoje?

Andando pelas ruas de São Paulo ou pelo metrô da cidade neste final de semana foi fácil ver como os Bloquinhos de Caranaval se consolidaram como uma grande atração para o paulistano.

Serão cerca de 491 desfiles do mais variados tipos e atendendo aos mais diferentes gostos e públicos. A grande concentração na região do Largo da Batata inclusive trouxe um certo caos à Linha Amarela de Metrô, a qual teve estações fechadas, invasão de trilhos e acionamento indevido de botões de emergência.

Tirando os impactos do precário nível educacional e falta de bom senso da média da população da cidade, o que fica patente é a grande demanda paulistana por opções de entretenimento, fato que também se reflete todo domingo com a invasão da Avenida Paulista por milhares de pessoas das mais diferentes tribos.

Se fechar Ruas e Avenidas da Cidade e autorizar músicos em trios elétricos ou em pequenas esquinas tem um potencial de atrair tanta gente, estas iniciativas deveriam ser estimuladas ou inibidas? 

Posto de outra forma, o que é melhor para a sociedade, a alegria de foliões trajados de unicórnios e noivinhas ou o sossego das pessoas que utilizam aquelas ruas e vias públicas para se locomover nas idas e vindas  de suas casas?

Mais do que defender um lado ou outro, o mais importante nesta análise é perceber que esta medida beneficiará um grupo em detrimento de outro, ou seja, haverá pessoas impactadas de formas diferentes pela mesma intervenção na cidade.

Os defensores dos bloquinhos irão falar que é uma medida extremamente barata de ser executada frente ao lazer que proporciona à milhares de pessoas. Os opositores irão levantar a degradação da cidade, o volume de lixo acumulado (e os posteriores gastos de limpeza da prefeitura) e o transtorno nas vias de trânsito e transporte público.

Hoje os Bloquinhos estão em alta, pelo que percebo tem amplo apoio, vide o número de pessoas nas ruas, e aqui se destaca, dos mais variados níveis de renda. Mas o que ocorreria se no futuro o balanço de prejuízos superasse os benefícios de lazer? 

Se no futuro houver mais lixo nas ruas, queixas de roubos, assaltos, tentativas de abuso sexual e vandalismo, como o Prefeito deveria abordar a questão se quiser convencer a população de que os Bloquinhos fazem mais mal do que bem para a sociedade?