Na década de 90, o grande problema para ser resolvido era a Inflação. Foram lançados diversos planos (fracassados), inúmeras moedas em circulação e uma tentativa estapafúrdia de sequestro da poupança de milhares de brasileiros pela dupla Collor e Zélia.
Eu era um garoto mas lembro bem do ano de 1994 que marcou a vida de todos os brasileiros.
Ayrton Senna nos deixou no dia Primeiro de Maio daquele ano e nossas manhãs de domingo nunca mais foram as mesmas.
Em 17 de Julho, Baggio perde um penalty e o Brasil é campeão da Copa do Mundo após 24 anos; a conquista não apagou a perda de Senna mas encheu o país de alegria e principalmente de confiança.
No pano de fundo de lágrimas de tristeza e alegria, por meio da Medida Provisória 434, alguns políticos e economistas capitaneavam o Plano Real no início daquele ano, algo que mudou profundamente os rumos do nosso país.
A figura no final deste texto mostra a inflação medida pelo IPCA, não é difícil ver o impacto do Plano Real, saímos de um patamar de alta de preços mensal de 45% para uma estabilidade que perdura até os dias de hoje, apesar dos devaneios praticados no governo Dilma.
Apesar de ser consenso que o Plano Real resolveu o mais grave problema daquela época, é importante destacar que não foi um plano fácil de se digerir. Sem entrar tanto nos detalhes técnicos mas, para segurar a inflação e a cotação do dólar, o principal instrumento do Banco Central era colocar a Taxa de Juros nas alturas.
Em outras palavras a inflação ficou sob controle, porém os Juros eram tão altos que desestimulavam o consumo das famílias e o dólar tão baixo que estimulava a importação em detrimento do produto nacional. Dá pra imaginar que a FIESP e economistas heterodoxos provavelmente não gostavam muito desse cenário, talvez no frigir dos ovos preferissem a inflação.
Com esses focos de pressão, como FHC, Gustavo Franco, Pedro Malan, Pérsio Arida e outros envolvidos conseguiram manter suas convicções e não ceder a tentação e liberar geral?
Basicamente, além de serem pessoas hábeis e acreditar nas próprias convicções, um fator importante foi o apoio do povo. Não à toa FHC foi eleito presidente no primeiro turno das eleições de 94 e reeleito em 98.
A inflação era algo muito "tangível" para a sociedade naquela época. Os últimos anos de relativa calmaria dão a impressão que somos imúnes, que nada pode trazer este passado nefasto de volta. Porém meus caros, sinto lhes informar que se não promovermos mudanças profundas no Gasto Público e em especial na Previdência, logo mais estaremos de volta aos galopes inflacionários dos anos 80 e 90.
Uma das lembranças que tenho é de ir na padaria com notas de Cruzeiro e o "tiozinho do Caixa" olhar uma tabela de conversão para URV e posteriormente para o Real. Eu ficava impressionado porque os Cruzeiros pareciam notas de Banco Imobiliário, você juntava várias delas, com números bem grandes e conseguia comprar algo como 5 pãezinhos.
Apesar das lembranças afetivas do ano de 1994 espero que ainda seja possível encontrar um caminho para que não marchemos à passos largos de volta àquela realidade. Não vamos nos iludir com o atual cenário de juros baixos e inflação sob controle, o mesmo repousa em bases tão frágeis quanto à própria credibilidade do governo, como disse no último post se nada for feito o Brasil de amanhã será o Rio de Janeiro de hoje.